TÉCNICAS
Gravação e edição em televisão
 
O INÍCIO
As tentativas de transmitir imagens aconteceram desde o final do século XIX. Uma das bem sucedidas foi o invento de Alexander Bain, em 1842: o "Fac-símile", atualmente conhecido como fax.
Os processos que eram mecânicos evoluíram e podia-se transmitir imagens com até 30 linhas de resolução (os sistemas PAL-M e NTSC utilizam 525 linhas). Mas havia um problema: como armazenar as imagens?
Os primeiros métodos utilizados se basearam nas gravações que eram utilizadas para o som, um disco de 25 centímetros de diâmetro e de 78 rotações por minuto, como nos antigos gramofones.
O invento de dinamarquês Valdemar Poulsen, técnico da empresa de telefonia de Copenhague, no início do século XX, traria a inovação em gravação eletromagnética. Poulsen, em momentos de concentração em suas pesquisas, não gostava de ser incomodado e muito menos atender ao telefone, então criou a primeira secretária-eletrônica: o "Telegrafone", como era chamado. Utilizava-se um fio de arame para armazenar as gravações magnéticas, mas havia um enorme problema, quando o fio torcia, a gravação ficava ao contrário. Esse sistema foi usado até o início dos anos 40.
Outros meios para armazenar as gravações foram desenvolvidos, inclusive uma fita de papel banhada com aço em pó. Talvez essa tenha sido a maneira que possibilitou as indústrias Basf e Telefunken de juntas desenvolverem a fita como hoje é conhecida, utilizando uma camada de óxido de ferro como material magnético sobre uma fita de poliester.
 
VIDEOTEIPE
A televisão passou do processo mecânico para o eletrônico com uma definição de 30 linhas, mas a gravação em disco não havia sido abandonada, isto só iria ocorrer em 1936, com a mudança de 30 para 405 linhas de definição.
Seguindo o caminho do desenvolvimento dos processos de gravar o som, o vídeo passou também a desenvolver técnicas de gravação em fita magnética, sendo que os primeiros grandes progressos começaram em 1950.
No ano de 1956, em 14 de abril, dois cientistas da americana Ampex, Charles Ginsberg e Ray Dolby, revolucionaram o modo de fazer televisão com o invento do "videoteipe". Deste modo não chegaria mais aos olhos do telespectador os erros e improvisos da televisão feita ao vivo. As produções podiam ter seus trabalhos melhor acabados.
VT Ampex - primeiro videoteipe e sua equipe de criação.
Quadruplex e inventores
 
Mas não foi fácil chegar ao invento. A dificuldade estava em armazenar muito mais informações que o áudio. Se fosse utilizado o mesmo processo de gravação do som, haveria a necessidade de 35,5 metros de fita para armazenar informações de 01 segundo de imagem, e para 01 hora, 127.800 metros de fita, sem contar é lógico que a fita teria de passar na cabeça magnética a uma velocidade de mais ou menos 130 quilômetros por hora.
O que foi feito então? Manteve-se a mesma velocidade de fita que do gravador de som, ou seja, 38 centímetros por segundo (15 polegadas por segundo), mas para que a gravação ganhasse maior velocidade fizeram também com que a cabeça magnética também girasse.
Quadruplex - primeiro sistema de gravação de imagens e sons desenvolvido pela Ampex, em 1956.
Resumindo, o videoteipe inventado era assim: a fita teria de ser de 05 centímetros ou 02 polegadas de largura, tendo urna velocidade de 38 centímetros ou 15 polegadas por segundo, passando por um conjunto em forma cilíndrica de 04 cabeças dispostas a 90 graus cada uma que tanto gravavam quanto reproduziam e giravam a 240 rotações por segundo, e recebeu o nome de Quadruplex devido as cabeças se encontrarem em forma de quadrante.
Fita 2 polegadas - esquema de gravação utilizado pelo sistema Quadruplex.
O videoteipe foi usado pela primeira vez no Brasil em 1958, com a apresentação de "O Duelo", de Guimarães Rosa, pelo programa "TV de Vanguarda", da TV Tupi de São Paulo. O equipamento era utilizado de forma precária pois não havia possibilidade da edição (montagem). Walter George Durst, responsável pelo programa, dispunha de uma fita de apenas uma hora de duração e por isso as cenas tiveram de ser exaustivamente ensaiadas e cronometradas. Quando a fita terminou, ainda faltavam as cenas finais, que foram feitas "ao vivo" após a exibição da parte gravada.
Os avanços da tecnologia trouxeram, em 1959, o sistema helicoidal. Nesse sistema as trilhas de vídeo passam a ser mais inclinadas, utilizando melhor o comprimento da fita.
Sistema de gravação Helicoidal.
Fita 1 polegada - esquema de gravação.
Tanto o áudio quanto o vídeo utilizavam as fitas em rolo.
O videoteipe passou a ser usado definitivamente com o programa humorístico de Chico Anísio em 1960.
E mais uma vez o áudio revolucionou. Em 1963 a holandesa Philips inventou a fita cassete (cassete - em francês, pequena caixa).
No ano de 1970, a japonesa Sony inventou o U-Matic, formato que trazia a fita já em cassete com uma bitola de ¾ de polegada em vez de 2 polegadas, utilizando a gravação helicoidal, lançado comercialmente em 1974. A televisão, com este sistema, apesar de um pouco inferior ao Quadruplex, ganhava praticidade. O U-Matic veio agilizar as gravações externas, principalmente as reportagens, em que eram utilizadas as câmeras com filmes 16 mm que deveriam ser revelados e depois montados. Ele trazia consigo um desenvolvimento moderno de edição eletrônica.
   
Fitas U-Matic
  Ilha de edição U-Matic
Novos sistemas foram desenvolvidos com qualidade superior ao Quadruplex, utilizando fitas de uma polegada gravando também com sistema helicoidal.
Apesar do U-Matic ser lançado para uso doméstico ele mostrou ser viável para as emissoras de televisão.
Em relação a montagem de imagens, tanto no início do videoteipe quanto em filme, a edição era feita manualmente através de cortes nas fitas ou nos filmes, o que provocava, muitas vezes, pulos de imagens. A edição eletrônica eliminou esses cortes.
É necessário pelo menos duas máquinas de videoteipe (VT). Em um VT coloca-se a fita com as imagens originais, no outro VT coloca-se em ordem as imagens selecionadas a partir da primeira fita, podendo ser utilizados efeitos sonoros e de imagens. Isto é a edição.
O avanço no desenvolvimento de formatos mais compactos começaram a surgir. Em 1975, a Sony lança o Betamax, usando uma fita cassete de 0,5 (meia) polegada. Dois anos mais tarde, em 1977, a também japonesa JVC (Japan Victor Company) lança o VHS (Video Home System), ambos para uso doméstico.
Esses formatos utilizavam o sistema de vídeo-composto, gravando a luminância (Y) que corresponde a gama de cinza, indo do preto ao branco, e a crominância (C) que corresponde as cores.
Para melhorar a resolução do material gravado, desenvolveu-se o sistema de vídeo-componente em que os sinais são separados.
A Sony criou o sistema Beta, desenvolvido a partir do sistema doméstico Betamax. Ele se dá através da gravação do sinal decomposto: B-Y (canal azul menos luminância), R-Y (canal vermelho menos luminância) e G+Y (canal de verde mais luminância), recebendo o nome Betacam para a utilização broadcasting.
As japonesas Panasonic e JVC apostaram em um sistema intermediário de vídeo-componente que utiliza Y/C (luminância separada da crominância), conhecido como S-Video. Utilizou o formato doméstico VHS como base, recebendo o nome de S-VHS (Super VHS), em 1987.
 
SISTEMAS DIGITAIS
DV
O formato DV (Digital Video) surgiu da união das empresas Hitachi, JVC, Mitsubishi, Panasonic, Sanyo, Sharp, Sony, Thompson, Toshiba e Philips, formando, no final de 1993, um grupo de desenvolvimento de tecnologia de suporte para televisão digital no que consiste desde a captação ao armazenamento das imagens (gravação e edição).
Durante o desenvolvimento tecnológico houve uma preocupação com os padrões a serem adotados. No início do desenvolvimento do formato DV, a expectativa era que esse formato fosse utilizado pelas dez empresas de tecnologia eletrônica, mas no final, surgiram outros três sistemas a partir do DV: o DVCAM da Sony, o DVPRO da Panasonic e o Digital-S da JVC.
A JVC não utiliza fita DV, e sim de um cartucho S-VHS. Tanto a Sony quanto a Panasonic possuem equipamentos que reproduzem os formatos DV (fitas com duração de até 3 horas) e Mini-DV (fitas com duração de 30 e 60 minutos).
O DV possui um tambor de gravação helicoidal minúsculo com duas cabeças, girando a surpreendente velocidade de 9000 rpm (rotações por minuto), cinco vezes a mais que a velocidade dos gravadores do sistema NTSC (1800 rpm).

O formato DV usa compressão de dados 5:1, no formato componente (Y, R-Y, B-Y), idêntico ao sistema BETACAM. O DV oferece alta qualidade de imagem (500 linhas de resolução) e áudio (48MHz - 16 bit - estéreo) digitais, eliminando os problemas comuns como drop outs, sendo imperceptível a perda a cada geração.

Os equipamentos possuem saída composta (Y/C), S-Video (Y-C), componente (Y, R-Y, B-Y) e também o padrão IEEE que além de transmitir sinais de áudio e vídeo, ainda controla a edição.
As compressões de áudio e vídeo são baseadas no codec MPEG-2, sendo compatíveis com placas de edição não-linear para bases Windows e Mac, e servidores de mídia, inclusive para a Internet.
Um frame no formato DV, no sistema NTSC, é decomposto em dez trilhas que não contém seções sucessivas de imagem; ou seja, eles são distribuídos com códigos de correção de erro, sobre toda as dez trilhas. Os criadores do DV afirmam que podem ser perdidas duas (das dez) trilhas inteiras, e mesmo assim poderá ser reconstruída a imagem.

A sigla YUV significa componentes do sinal, onde:

  • Y é a luminância;
  • U(R-Y) é o sinal R (red) vermelho e Y somados;
  • V(B-Y) é o sinal do B (blue) azul e Y.
A informação de verde G (green) é extraída matematicamente através das informações de YRB, caso se tenha um vectorscope (instrumento usado para medir a fase vetorial do sinal de vídeo), podemos ver os sinais de U e V pois são os eixos de X e Y da tela do instrumento.
Este sinal é mais conhecido como componente, começou a ser usado, nos processos de gravação com a invenção do sistema Betacam, pois o RGB tinha alguns problemas para ser usado pois não tinha a informação de Y, que para um corte, ou seleção de imagens, em um switcher é fundamental.
Quanto ao sinal digital temos dentro do componente serial digital (YUV) codificados digitalmente num único cabo) várias taxas de amostragem, onde podemos medir a compressão de sinal:
  • 4:4:4 - 4 bits de Y, 4 bits de R-Y e 4 bits de B-Y (vídeo sem compressão);
  • 4:2:2 - 4 bits de Y, 2 bits de R-Y e 2 bits de B-Y;
  • 4:2:1 - 4 bits de Y, 2 bits de R-Y e 1 bits de B-Y;
  • 4:2:0 - 4 bits de Y, 2 bits de R-Y e 0 bits de B-Y;
  • 4:1:1 - 4 bits de Y, 1 bits de R-Y e 1 bits de B-Y.
A compressão existe pois o sistema não consegue gravar todas as informações do sinal, então ele elimina alguns bits e na reprodução o sistema recompõe eletronicamente o sinal.
ITI – Insert and Track Information (Informação de Trilha e Inserção), informa a localização das trilhas de áudio e vídeo para edição.
Sub-code - Setor para a gravação de time-code.
 
 
OBS.: A CONTINUAÇÃO DESTE CAPÍTULO AINDA PREVÊ O FORMATO HI-8, OS SISTEMAS DIGITAIS E EDIÇÃO.
 
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