|
FERNANDO
FARO |
|
|
|
Baixo! |
É assim que ele chama os amigos. É assim
que os amigos o chamam. |
Seu nome é Fernando
Abílio de Faro Santos. Ele adora música
e futebol, não sei se nessa ordem. |
Como vocês percebem nesta foto ao lado
de Fernado Faro e Chico Buarque, quando ele está envolvido com o
futebol, aproveita e coloca um pouco de música no seu time. Quando
está envolvido com música, faz jogadas maravilhosas. |
Conhecido por criar e dirigir o programa
"Ensaio" na TV Cultura de São Paulo desde 1989, iniciado
em 1969 na extinta TV Tupi, Faro trouxe a versão mais moderna do
seu famoso "MPB Especial", também na Cultura em 1971. |
Sua atuação como diretor se amplia também
na área de shows e discos para grandes nomes da música popular brasileira. |
Mas na televisão teve uma marca memorável,
além de seu estilo de "big closes" e iluminação de alto
contraste, utilizados no programa "Ensaio", Fernando Faro
inovou a linguagem da televisão. |
O que temos a seguir é uma breve conversa
que tive com um amigo que gosta de música, futebol e é apaixonado
por televisão. |
|
MAURICIO VALIM |
|
|
|
Faro, como
tudo começou? Onde você nasceu? |
Nasci em Sergipe...
Aracaju e me criei em Laranjeiras. |
|
|
Eu fiquei em Laranjeiras até ir
para o Colégio Salesiano, em Aracaju. Aí fiquei 4 anos no Colégio.
Saí do Colégio porque meu pai morreu quando eu tinha dois anos,
aí fui com a minha mãe para Bahia, Salvador. Fui estudar no Colégio
Antonio Vieira que era um colégio de jesuítas. |
Vim para São Paulo. Aí entrei
na São Francisco e fiz até o terceiro ano. Comecei a fazer Direito...
mas não agüentei. No terceiro ano, no último exame, eu cheguei,
eu olhei assim, as escadarias, ali no Largo São Francisco, aquela
coisa mármore, fria, eu disse: "Não fico mais aqui". Aí
saí na hora do exame, eu saí e fui embora... Não tem nada a ver
comigo, aí fui trabalhar no jornal. |
O primeiro jornal foi o Jornal
chamado "A Noite", depois fui trabalhar em outro chamado
"Jornal de São Paulo". |
No jornal "A Noite"
eu fazia reportagem geral... e tinha um outro chamado "Movimento"
que era um jornal comunista que eu trabalhei lá também. |
|
Saí
do jornal "A Noite" e fui para o "Jornal de São Paulo".Saiu
uma porção de gente junto, por exemplo, o Hernani Silva Bruno. Nós fomos
para o "Jornal de São Paulo", que pertencia ao Adhemar de Barros. |
No "Jornal de São Paulo"
eu comecei fazendo reportagem geral. Trabalhavam lá, o Péricles
Eugênio da Silva Ramos; Galiano Coutinho; Geraldo Ferraz, marido
da Patrícia Galvão que era um cara incrível, jornalista fantástico.
Eu lembro que quando eu cheguei lá, a primeira vez, me mandaram
fazer uma cobertura da inauguração de uma nova célula de um partido
político. Aí eu fui. |
|
|
Me lembro quando voltei, o Geraldo
Ferraz levantou, saiu da mesa dele, 9 e meia, 10 horas da noite,
sentou assim na minha mesa, ficou olhando... aí disse assim: "Quando
Vossa Senhoria acabar me avise porque tem mais ou menos 30 funcionários
esperando a sua matéria para fechar o jornal". Porra, eu comecei
a tremer. |
Mas ele era um cara, assim, de
uma dureza. Uma vez, ele chegou para um repórter e disse: "Esta
matéria está uma merda, isso não serve nem para limpar a bunda.
Por que você não chamou o deputado que te recomendou aqui para fazer
isso?". Pegou, amassou tudo e jogou pela janela. |
Eu comecei a fazer então as sessões
de cinema e teatro, críticas, informações. |
|
Um
dia ele chegou para mim e disse assim: "Faro, por que você não vai
para o Rio, menino!". Eu disse: "Para o Rio, Geraldo? Por quê?".
"O Rio é a terra ótima para você, até o cara como Ledo Ivo faz sucesso!".
Foi um tempo legal. E daí eu saí e fui para a Rádio Cultura, naquele tempo
não era dos Associados... A Rádio Cultura foi comprada depois, era do
Nicollini. |
|
A Televisão Cultura no
começo não era dos Associados? |
Era dos Associados... a
Rádio não, a Rádio era dos Fontoura... na Avenida São João. |
Aí eu fui trabalhar lá,
fazia um programa chamado "Ribalta" que era um programa assim
que usava o elenco de rádio teatro e fazia coisinhas, por exemplo, Alberto
Camise lançou o "Mal entendido", um escritor nos Estados Unidos
chamado Eugene O´Neil, que aqui não conhecem, fizemos um trecho de uma
peça dele. Claudel... vamos fazer uma coisa do Claudel, aí fazia uma porção
de coisinhas... trechos... Samuel Beckett, que ninguém nunca tinha ouvido
falar, e fizemos. |
|
|
|
Você começou a trazer o teatro para rádio?
Foi idéia sua? |
Foi, chamava "Ribalta" o programa,
durou um ano, um ano e pouco. Daí eu saí e fui para TV Paulista...
da Rádio Cultura para TV Paulista, do Víctor Costa que naquele tempo
tava uma onda muito grande porque o Costinha tinha inaugurado a
Rádio Nacional, na Rua das Palmeiras... a Rádio ficava umas duas
quadras para frente da TV Paulista, mas na mesma rua. |
Quando eu fui para lá, o Costinha disse: "Ô
figura, você tem que vir trabalhar aqui com a gente". Eu disse:
"Tudo bem". "Você vai para a parte artística, mas
por enquanto você tem que entrar no jornal, porque o jornal é que
tá abrindo". O jornal era chefiado pelo Rizini que era diretor
dos Diários Associados. O Rizini, o Evaldo de Almeida Pinto... aquelas
entrevistas com Jânio, ele ficou famoso, Dr. Jânio... E eu entrei
lá como redator. Depois de três meses no jornal, eu cheguei para
o Costinha e disse para ele assim: "Ô Costa, eu tô no jornal..."
é "O Grande Jornal" e disse: "Pô Costinha, ainda
tô lá". "Não, eu vou falar com o Rizini hoje". Foi
falar com o Rizini, aí no dia seguinte chegou e disse: "Figura,
não vai dar, o Rizini disse que não te solta de jeito nenhum. Ele
disse que você era um texto fantástico!". Porque eu tinha feito
um texto usando a palavra, sei lá, "na salvaguarda dos seus
direitos", aí o Rizini achou salvaguarda uma coisa fantástica! |
|
|
Você foi buscar a palavra
nas suas aulas de Direito? |
É claro. No Norte, a gente
lia muito porque parece que o tempo sobra, não sei... o sol, o calor,
convidam a gente a ficar em casa, a ler. Então a gente lia muito. Aí ele
disse: "E o Rizini quer uma coisa. Quer que você seja o editor-chefe
do jornal". Aí ficou assim, o Evaldo, eu e na chefia de reportagem
ficou um cara chamado Mauro Guimarães. Sabe quem é? O que dirigia a sucursal
do "O Jornal do Brasil", um cara legal. E tinha uma porção de
gente na redação, Fernando Pacheco Jordão era redator. Então eu fiquei
lá até um dia, uns dois anos, eu cheguei e disse assim: |
- "Pô Rizini, eu tô
saindo". |
- "Mas por que, você
vai para onde?" |
- "Não vou para canto
nenhum, não quero mais vir para cá. O caminho me enche o saco, entende?
Não quero mais". |
- "Faro, você não pode
deixar. E a televisão?" |
Nesse tempo eu já tinha
feito um negócio na televisão, antes do jornal, que era um teledrama.
Lembra do teledrama... eu acho que você não lembra não... TV Paulista...
meados dos anos 50, 55, 56. Eu fiz um que era um negócio lembrando Sergipe,
chamado "Inácio Brinquinho" que era a história de um bandido
que apareceu lá em Laranjeiras, com brinco. Então ele chegava nos engenhos
e dizia assim: "Se não me derem tanto dinheiro, eu vou matar seu
marido, seus filhos... ou a sua mulher, os seus filhos". O pessoal
dava. Chegou uma lá e disse "Não dou o dinheiro". Ele matou
o marido dela. Ela pegou, juntou os vaqueiros, tinha 15, 16 anos e saiu
pelo sertão. Voltou uma semana depois com a cabeça do Inácio Brinquinho
pendurada assim, levantada numa mão, correu pela cidade... ela chamava:
Jurema Faro... parente lá, longe. Então eu fiz esse teledrama, antes,
porque eu tinha essas manias de escrever. |
Então eu disse para o Rizini:
"Não quero mais ficar aqui", O Rizini: "Mas você não pode".
No dia seguinte, chegou com uma cartinha para mim do Edmundo Monteiro
para o Cassiano Gabus Mendes. Eu levei a cartinha para o Cassiano, ele
disse: "Baixinho, já me falaram de você, viu?" Eu falei: "Trouxe
essa carta para você", ele disse: "Edmundo Monteiro, ah!".
Rasgou e jogou fora na hora e falou: "Não, você vai fazer. Vai assinar
o contrato e experimentar comigo quatro meses", ou três meses, não
lembro. Aí eu fiz uma adaptação de um trecho do "O Tempo e o Vento",
do Érico Veríssimo. |
Quando terminei a adaptação,
que foi para o ar, Cassiano chegou e disse assim: "Baixo, vai falar
com o Zezinho". Zezinho era o gerente. Aí tinha um contrato lá de
dois anos... Eu tinha que fazer televisão e rádio... É, porque o contrato
da Tupi era assim, você tem que fazer rádio também. Aí, eu fiz rádio,
o que é que tinha na rádio... Ah, fiz dois programas semanais que depois
viraram três. Um deles chamava "Na Pancada do Ganzá" que era
um negócio em cima daquele trabalho que o Mário de Andrade ia fazendo,
tudo... que começou com o "Turista Aprendiz"... que mandou o
Luiz Saia colher coisas do Nordeste e não acabou o trabalho, então eu
fiz "Na Pancada do Ganzá" que era em cima daquelas coisas mais
tradicionais do país, por exemplo "Nau Catarineta", chegança,
catadores, tambor de minas, aquelas coisas e fiz um outro chamado "Música
da Gente" que esse era popularzão, de carnaval, o pagode da época...
Então na Tupi eu comecei a fazer o "TV de Vanguarda" na televisão
e esses programas de rádio... Aí fiz várias coisas no "TV de Vanguarda".
Eu chegava para o Cassiano e dizia: "Escuta, faço adaptação, faço
o que você quiser, Baixo". Aí eu fiz: "O Triângulo" que
era de minha autoria, fiz várias, fazia também "O Contador de História",
lembra do "O Contador de História" que antes tinha uma abertura
com o Cassiano? Que dizia assim: é uma história de espantar... Então "O
Contador de História" eu fiz muitos... eu fazia adaptação e original...
Então eu lembro que esse "O Triângulo", foi uma coisa louca
porque na época estava em moda o nouveau roman... aqueles caras...
aí eu quis fazer uma coisa próxima daquilo, aí fiz "O Triângulo"
que era o seguinte: é um triângulo amoroso, marido, mulher e amante, 3
atos, cada ato do ponto de vista de um das personagens... Aí o diretor
comercial da rádio, meu amigo ou digo meu inimigo, aí chegou para o Cassiano
e disse assim: |
|
|
- "Ó Cassiano, não dá para o Faro fazer
TV de Vanguarda, pô, ninguém entende o que ele faz, põe ele para
fazer musical". |
E aí comecei a fazer musicais. |
Comecei a fazer musicais, tá tudo bem, eu fiz...
lembra naquele tempo, Norma Bengel, Alaíde Costa... Musical, por
exemplo, lembra da dupla Vadeco e Odilon?... Eu fiz com eles que
eram uns caras engraçadíssimos. |
|
Já se faziam musicais como se fazem hoje?
|
Fazia como se faz hoje... como se fosse um
show deles... na televisão... ao vivo. Só que eles faziam o seguinte... |
|
|
Tinha algum apresentador
ou apresentadora? |
Eles mesmo falavam, por
exemplo o Vadeco e o Odilon, eles tinham umas gagues fantásticas então,
por exemplo, dizia: "Vamos trocar a música", e eles de repente
no meio de um número dizia assim: "Estátua", aí todo mundo ficava
durinho, ao invés do fade (dissolvimento
de uma imagem para o preto ou vice-versa, no áudio é o surgimento gradativo
do som ou vice-versa - Mauricio Valim),
tocava a música deles. Aí depois eu comecei a fazer uns programas tipo
"É Wallig, o Espetáculo" que eram shows assim, mais ou menos,
parecidos com o Fantástico, entende? Com reportagens, apresentado por
uma mulher maravilhosa, Helena Inês, sabe quem é? Que era casada com o
Rogério Sganzerla. Então aconteceu o seguinte, o dinheiro da Tupi era
pouco, então eu trabalhava em propaganda. Trabalhei em tudo quanto foi
agência de propaganda, todas. E eu trabalhava na Norton e a Norton inventou
um treco que era assim, você tem que entrar às 8, sai ao meio dia para
o almoço, volta às 2 e fica até às 6. Então nesse programa, eu ficava
na Norton até as 6, saía as 6 e ia para Tupi, montava cenário, tudo, fazia
a parte musical, não toda, porque o ballet chegava depois da apresentação
dele na boite, quer dizer duas horas, três horas da manhã. Então eu ia
fazer o ballet e às vezes ia direto para agência... Não sei se era do
Ismael Guiser... Fazia parte do programa, o ballet vinha e tem que fazer
uma cena assim, o assassinato de uma bailarina, entende?... Era no musical,
eu é que fazia... na parte musical tinha o ballet e tinha cantores e músicos
em geral... "É Wallig, o Espetáculo"... esse programa foi criado
por... Fernando Barbosa Lima. O Fernando criou e depois teve que sair
da Tupi, aí me chamaram para levar o programa para frente. |
|
Esse programa era gravado?
|
Já era gravado. "Hora
de Bossa" que eu fiz, era ao vivo... era semanal... todo o Domingo. |
|
Quando você saiu do jornal
do Víctor Costa, você já trabalhava em agência? |
A primeira de todas foi
numa agência chamada Dipro. Logo que eu entrei na TV, comecei a trabalhar
em agência também. |
|
A TV não pagava bem? |
Não, nunca pagou bem, nenhuma
televisão pagava. Dipro era a agência do Cássio Muniz. Cássio Muniz era
uma loja, você conheceu?... E teve uma coisa curiosa com o Cássio Muniz
que o chefe lá era um cara chamado Zé Renato, um cara muito esperto, de
muita sabedoria. Então o Zé Renato disse: "Você tem que fazer um
anúncio", porque eu fazia tudo na agência dele, não era só televisão
e rádio. "Você tem que fazer um anúncio dizendo compre seu televisor
mais barato. Você tem que dizer compre seu televisor mais barato, não
vai enfeitar com história da Bíblia, diga: compre o seu televisor mais
barato, isso é o que o cara quer saber". Então aprendi muita coisa
com ele. Só que um dia eu cheguei para ele e disse: "Zé, eu tô saindo",
porque tinha um cara chamado Lauriano, chegou a conhecer?... Lauriano
Fernandes... que tinha um jornalzinho na Lapa... era paraplégico... então
um dia ele chegou para mim e disse assim: "Faro, eu não tô agüentando
mais, você podia tocar o jornalzinho para mim?". Eu cheguei para
o Zé e disse: |
- "Zé, tô saindo da
Dipro." |
- "Você tá louco, você
tem família, você ganha um salário bom, vai para lá ganhar quanto?"
|
- "Não sei, Zé."
|
Aí eu passei uns 6 meses
fazendo o jornal... Aí depois de 6 meses o jornalzinho fechou. Eu que
fazia tudo no jornal, entende? Eu era tudo no jornal. Mas não deu... Aí
eu cheguei para o Zé e disse assim: |
- "Zé é o seguinte,
não tá dando no jornal, tô voltando." |
- "Pode voltar, teu
lugar tá aí." |
Aí eu voltei a trabalhar
com ele até uma certa época, depois saí, eu fui para o Norton, Mc Cann.
Nesse tempo eu trabalhava na Norton, tinha aqueles horários, muitas vezes
eu ficava sem dormir, saía 6 horas da Norton e ía lá para Tupi... Na Norton
eu era da criação de televisão. |
|
Você tinha que ficar
lá o dia inteiro? |
Tinha, tinha um relógio...
eu lembro do Zé Alonso... |
No tempo que eu estava lá
os donos eram... o Zé Alonso tinha uma conta da... como é que chamava?...
o nome de salsicha... Perdigão... ele chegava para mim e dizia assim:
"Tem que fazer um comercial que tenha petit piu". Eu
disse: "Tem o quê?". "Petit piu"... Ele queria
dizer apelo ao apetite, petit appeal, entende? Então tinha que
ser uma coisa que parecesse assim gostosa. E aconteceu uma coisa fantástica
na Tupi, eu fui com o Aquiles na Perdigão, vim do Paraná para cá, ficou
comigo na mesa, para fazer um comercial, eu dizia: "Porra, joga isso
fora". E jogava o roteiro fora. Vamos fazer uma cena assim que eu
peguei, preto e branco, eu pintei as salsichas, pus um brilho de bailarina,
aquelas coisas e tudo mais para ficar o petit appeal. Aí, fiz lá
baixo, eu disse assim: "Vou terminar assim, uma geral da mesa, só
que no canto assim, discretamente vai aparecer Perdigão, salsicha Perdigão".
Aí eu fiz e disse: "Porra Aquiles, eu gostei, o que você achou?",
"Eu gostei também Faro, só que você não quer fazer mais uma e pôr
a latinha do Perdigão na frente, grandona, porque o pessoal lá não sei
o quê". Eu disse: "Ué, tudo bem"... Aí apertei o interfone
para falar com o estúdio, aí disse: "Tião", Tião é esse que
tava no Jô Soares, não sei se tá... "Tião é o seguinte, nós vamos
ter que fazer de novo". |
Aí o Tião disse: "Não
dá". " Como não dá?". |
É o seguinte, naquele tempo
a Tupi não pagava, atrasava 3 meses, 4 meses, então o pessoal da miúda,
a contra-regra... acabou o negócio, todo mundo foi comer a salsicha...
Então não tinha mais o objeto do comercial... "Tá bom Aquiles, ficou
bom aquele"... |
Isso foi em 1963 por aí...
A Tupi sempre teve problema, desde que nasceu. Aí um cara chamado Márcio
Pauleta que assumia a folha de pagamento da turma e sobre essa folha cobrava
10 ou 20%, não me lembro, mas pagava, mas era uma coisa vergonhosa, né?...
Os condôminos eram fogo, João Calmon, aqueles caras todos, Oliveira...
|
|
Os condôminos eles recebiam
salário? |
Não precisava, né baixo!
|
|
Então sua vida ficava
facilitada, você criava os comerciais na Norton e gravava na Tupi?
|
Gravava na Tupi, às vezes
era a Tupi, às vezes eles programavam para Excelsior... Mas geralmente,
na Tupi, eles davam para mim... "Pô, o Faro faz bem essas coisas",
aí mandavam eu fazer... Criava e dirigia... se bem que os comerciais chegavam
lá, eu lembro, não sei que empresa era... era o lançamento de um perfume,
uma coisa assim e eu peguei a Deusa do Amor, Nerfretite, aí eu cheguei
e disse: "Porra, eu não quero esse outro, joguei fora e fiz da minha
cabeça, o cara adorou, não lembro quem era, adorou"... Eu trabalhei
na Norton e Mc Cann, e na Mc Cann o chefe de departamento de aviação era
um cara que chegava assim e olhava para você e dizia assim: "Com
quem eu pareço, quem eu te lembro?", "Jóia Jr.", "Olha
bem", "Não sei, Zé, Flash Gordon". Então era fogo, mas
por essa época, um pouquinho antes, 62, por aí, Cassiano me encontra um
dia no estúdio e diz assim: |
- "Baixo, preciso de
um programa para as onze e meia da noite." |
- "O que é que você
quer?" |
Ele disse: |
- "O que você quiser."
|
- "Não, você quer musical,
quer teatro. O que é que você quer?" |
- "Faz o que você quiser."
|
Onze e meia da noite. Aí,
eu comecei a fazer um programa chamado "Móbile" que era a partir
dos "Móbile"s do Calder, um programa sem estrutura, que de repente
você balançava, o vento soprava, tombava, como os "Móbile"s.
Então comecei a fazer essa coisa. Isso era um Sábado, Domingo, Segunda-feira...
passei por ele no corredor: "Ô baixo". Ele não falou nada, eu
disse: "Ih cassete, acho que o programa veio e foi". Aí eu ia
ver na programação e tava lá: "Móbile". Depois do terceiro Sábado...
na Segunda-feira seguinte eu passei pelo Cassiano e ele disse: "Vi
seu programa Sábado. Cê é do caralho, baixo, do caralho!". E eu disse:
"Porra, que bom que você gostou". Aí, meu inimigo Fernando Severino,
depois de um ano de programa, chegava e dizia assim: "Olha, eu vou
transmitir, Cassiano, eu vendi o futebol, então não dá para fazer o "Móbile"
de noite porque eu tenho futebol". E o Cassiano "Tá bom".
Pegava a programação e punha o "Móbile" em outro horário. Porra,
teve um tempo, rapaz, em que tinha "O Direito de Nascer" e logo
depois o "Móbile". Porra, não tinha nada a ver, um era comunicação
horizontal, entende baixo, informação horizontal e o outro, o "Móbile"
era uma coisa assim vertical. Por exemplo, eu lembro que muita coisa do
"Móbile", muitas soluções do "Móbile" foram usadas
no "Beto Rockfeller" que era uma novela de vanguarda na época.
E nesse "Móbile", porra, eu fazia cada coisa! |
|
E fatos curiosos? |
Uma vez, eu fiz o "O
Apanhador no Campo de Centeio", do J. D. Sallinger que era assim:
primeiro aparece a mulher telefonando, com bobes... aí aparece o ator
principal, ele veio dirigindo direitinho, os médicos disseram que ele
está muito bem e ele tá bem. E corta na praia, ele olhando assim e chega
uma menininha: "Que é que cê tá olhando?", "Tô vendo os
peixes banana", "Peixe banana?", "É, são os peixes
que comem muito, depois entram na gruta e não podem sair porque ficam
gordos demais, morrem lá. Ó tá vendo". Ficou conversando com a menina,
depois sai, pega o elevador. A mulher já parou com o telefone, o telefone
no gancho, ele entra, olha a mulher, desliga o rádio, abre a gavetinha
do criado-mudo, pega um revólver e dá um tiro na cabeça. É o fim da história.
Termina assim trágico e tudo, aí entra a voz do diretor de TV: "Egberto,
você tá sem foco, baixo. Então vê se é com a sua câmera... Enoch, vê aí
o que é que tem a câmera do Egberto"... Tudo isso no ar, né... "Chama
a câmara do Neto para te ajudar aí"... |
E era coisa assim, de repente
eu levei o Décio Pignatari. O Décio ia sempre com a revistinha "Invenção"
embaixo do braço: "Ó baixinho, trouxe a revista aqui para você escolher
o que você quer, fica aí". Aí de repente: "Décio, vem cá. Tô
com a revistinha da revista". Aí eu punha um cenário assim, com uma
mesa, máquina de escrever no quadro negro, aí empurrava ele e dizia assim:
"Décio, você tá no ar, faz alguma coisa". Então ele ficava assim
alguns minutos aturdidos, olhava uma câmera ligada, a outra câmera ligada,
ah. Quando a gente vai fazer uma entrevista com um cara na televisão,
ele não é mais ele, ele é um modelo de entrevistado, entende? Então eu
queria acabar com ele, então esses instantes assim... ele era ele. |
Eu fiz isso com várias pessoas,
fiz com Juca de Oliveira e Aracy Balabanian. Eles faziam um casal que
gostavam de palavras cruzadas e um dia, ele chega em casa, tem o "Última
Hora" com palavra cruzada. "Não, a Última Hora é fácil demais,
põe o Estado". Tá bom, o Estado. Outro dia ele chegava: "Meu
bem, vamos fazer palavra cruzada?". Aí eu arrancava a página do jornal.
Então o que vinha ali, era novo, era informação para mim, mas para eles
também... Aí eles inventavam, falavam que consumidor sofria, que estava
faltando a página da palavra cruzada, inventavam. Isso era o "Móbile".
Eu fiz, por exemplo, as coisas de Mc Laren, as coisas do Bèjart, eu fiz,
entende, as coreografias. Uma vez, eu fui fazer um negócio com a Márika
Gidali, um ballet que ela fez especialmente para o "Móbile"
e eu usei 3 câmeras, sendo que uma na frente com o ponto de vista do palco
italiano e duas, uma do lado e outra atrás. "Rapaz, o que você vai
fazer?", "Não se preocupe que a gente vê". Aí, eu peguei
um texto do Becket, depois eu pus... como chama aquele cara que fez o
Carrossel de Automóveis, Cemitério de Automóveis?... espanhol, não sei,
bom eu peguei um texto dele e por último, eu pus a música que ela coreografou
e para terminar eu peguei o César Mariano, "César, cê lembra daquele
teminha que você me deu de violão? Você mostrou? Eu queria fazer aquele
teminha. Só que é o seguinte, eu te dou o sinal e você começa a tocar
e quando eu der outro sinal, você pára", "Tá bom". Então
eu dei sinal para ele, o ballet começou a dançar, entende? Eu substituí
a música original pelo do César Camargo. Porque o ballet estava gravado
e ele começou a tocar, sem ver nada. O ballet acabou e pô, a Márika viu
e achou uma coisa maravilhosa, uma coisa deslumbrante. |
|
Você gravava seus programas
por módulos, por partes? |
O "É Wallig, o Espetáculo"
era assim tipo o Fantástico, tinha reportagens que por exemplo, não te
contei isso, eu gravava, eu saía da agência 6, 7 horas e ia gravar a parte
musical, como por exemplo Agnaldo Rayol... |
|
"Wallig" veio
junto com o "Móbile"? |
Eu gravava até a meia noite,
uma hora. A uma hora chegava o pessoal do ballet que vinha fazer o ballet,
a idéia que eu tinha passado para eles. Aí eles ensaiavam e a gente posicionava
câmeras, enquanto o Ismael Guiser ia ensaiando e marcando os pontos. |
"Vamos usar uma tele
aqui!" "A tele não dá porque a câmera cai!" "Não,
vamos segurar..." |
(tele - a lente
teleobjetiva era maior e mais pesada, e geralmente as câmeras tinham três
lentes, hoje elas são substituídas por uma única lente que incorpora todas:
a lente Zoom - Mauricio Valim). |
Então baixo, às vezes eu
não ia para casa, lavava o rosto e ia para agência direto. Isso na Quinta-feira,
na Sexta ia para agência direto. Na Sexta voltava para fazer a parte jornalística
que era "Espera", "Tico-Tico", as reportagens dele
e as cabeças com Helena Inês. Aí ia editar tudo, editava e terminava no
sábado de manhã, no sábado de manhã a gente saía e eu ia no Largo do Arouche
comer feijoada, mas de manhã... e aí eu ia para casa, ia sonâmbulo para
casa, mas foi legal. Uma vez no "Móbile" eu fui fazer... às
vezes ao vivo, às vezes gravado... |
|
Quantas pessoas ajudavam
na produção do programa? |
Pouquíssima gente, tinha
um senhor que trabalhava comigo que era o Magno Salerno que era uma espécie
de assistente do departamento musical, ele me ajudava e não tinha mais
ninguém, o pessoal da contra-regra... |
|
A produção de um programa
antigamente como funcionava? Você pensava e quem produzia? |
Eu... por exemplo, eu lembro
o primeiro "Contador de História" que eu fiz lá. Eu saí e fui
no Henrique Martins que era diretor de elenco e disse para ele assim: |
- "Escuta Henrique,
eu queria escalar o, eu queria o Lima, o Dionísio, David José, o Tatá." |
- "Você está brincando?" |
- "Não." |
- "Pô, o Dionísio tá
no teatro na Segunda-feira, o Lima tá no "Grandes Atrações Pirani"
de domingo, como eu vou escalar esses caras?" |
- "Bom, quem é que
você tem?" |
- "O Tatá, eu tenho,
tenho o Tatá, o David José, tenho duas meninas." |
- "Escala para mim."
|
Então eram 3 homens e 2
meninas. Aí eu saí e fui na cenografia, né: |
- "Klaus, eu queria
fazer o cenário." |
- "Não me fala isso." |
- "Por quê?" |
- "Não, porque o teatro
segunda-feira pegou todos os maquinistas, o Pirani pegou todos... o que
eu posso fazer com você, é descer lá no depósito. Você vai ver umas tapadeiras
que a gente não usou ainda, quem sabe não dá para você usar." |
Aí eu desci... |
- "Então, monta essa
tapadeira redonda." |
Aí eu cheguei, ia para casa,
para escrever uma história para aqueles 5 atores e para aquelas tapadeiras...
Agora você diz: Quem te ajudava? Ninguém me ajudava, ninguém, eu ia lá
e pedia... |
Lá na Tupi, no Sumaré...
você entrando, atrás da barbearia tinha o teatro, o palco... no que você
passou a barbearia que era quase portaria, a primeira porta a esquerda
era o palco... um espaço grande onde acontecia o "Pirani". |
|
Eles usavam o teatro
da Tupi como estúdio? |
Como estúdio, muito, muito
como estúdio, porque o teatro, eu acho que você tá confundindo, porque
não era o teatro, era um estúdio enorme que depois transformaram em teatro.
Então começou... como estúdio, depois ele transformaram, fizeram umas
construções e tudo, uns reparos de construção, abriram portas do lado,
entende que não tinham. |
|
O fundo dele ainda existe
porque a torre do SBT tá na frente mas atrás dele ainda ficou uma parte
desse estúdio, pelo menos quando o SBT estava lá, hoje acredito que ainda
está alugado para TVA... |
Eu não sei, não fui lá...
|
|
MTV está no prédio ao
lado, onde funcionavam as rádios e a administração... |
Eu lembro quando eu era
diretor musical da Tupi, isso aconteceu em 68, 69, eu era diretor musical
da Tupi, então eu lembro que tinha aquelas coisas, terminou o contrato
do Silvio Santos, porque o Silvio Santos arrendava o horário, aí o Cassiano:
"Porra Baixo, você tem que vir aqui para gente conversar". Aí
eu ia como diretor musical. Eu lembro uma coisa que o Silvio Santos falou
uma vez, que nunca me saiu da cabeça: "Tem que melhorar a audiência"
eu disse "Vamos fazer chamadas nos jornais, vamos fazer cartazes
de rua". Aí o Silvio Santos: "Não, não quero isso não, eu acho
que televisão se chama na televisão"... E pôrra, sei lá, talvez tenha
até razão, deve ter tido... Ele queria uma emissora e conseguiu... |
|
Segunda-feira você ficava
atrás das coisas para gravar o "Móbile"? |
Não, tudo isso eu fazia
antes. |
|
Durante a semana você
gravava algumas coisas? |
Não, não tinha horário,
eu gravava no dia do "Móbile" mesmo, agora tinha coisas que
eu fazia, por exemplo, áudio de tarde, entende? E de noite fazia o programa.
Então eu fui fazer com o Lima Duarte que era uma coisa que era lá em cima,
no estúdio de som, gravar uma voz dele. Foi engraçado isso porque fui
gravar uma fala tipo Antonio Conselheiro, o sertão vai virar mar, o mar...
aí "Lima faz isso gritado", aí o Lima fez, ficou bom, "Faz
de novo, faz mais baixo". Foi fazendo, não ficou bom. "Vou querer
mais uma tentativa", aí ele disse: "Baixo, vamos experimentar
uma coisa? Eu posso tirar a dentadura?", eu disse: "Ué, tira".
Ele tirou a dentadura, fez perfeito... Aí quando chegou depois ele disse
assim: "Que horas o técnico tá aqui a noite?". Eu disse para
ele assim: "Não vai precisar, porque eu arrumei umas esculturas,
umas peças mineiras, nordestinas que eu vou usar no programa, então eu
não vou precisar de você. Ele disse: "Então tá bom". |
Uns 3 meses depois eu cheguei
pro Lima e disse: "Pô, mineiro, eu preciso de você hoje", ele
me disse assim: "Tenho uma convenção, Baixo, não dá para você usar
aquelas esculturas?". Eu disse: "Tudo bem, dá". |
|
A televisão trabalhava
24 horas por dia, não com transmissão? |
Trabalhava, pelo tempo que
eu passei a fazer, o Cassiano chegou e me disse assim: "Porra, Baixo,
eu acho que você tá ganhando pouco, vou te dar mais um dinheirinho, você
vai ter que fazer uma novela". Aí tinha uma novela argentina que
ele fazia chamado "O Amor tem cara de mulher", uma idéia boa,
era um salão de beleza e cada dia era a história de uma delas, que era
a Aracy Balabanian, Eva Wilma. Então eu comecei a fazer isso para ganhar
um dinheirinho a mais. E isso, eu começava uma hora da manhã e ia até
de manhã fazendo os capítulos... Era na madrugada que eu escrevia... Escrevia
lá... naquele papel, como é que chama?... sujava a mão toda... Papel
de mimeógrafo... Que tinha a folha azul... escrevia naquilo, porque
dali saía, já rodava, já distribuía para o pessoal... não tinha nada...
Bom, aí como diretor musical, eu fazia os festivais, fiz durante quatro
anos. Eu fiz festivais, dois anos, Festival Universitário, Festival de
Música Popular, Festival da Viola, não sei qual era o outro festival...
67, 68, 69 e 70... a época dos festivais... quem começou os Festivais
foi a Excelsior... ganhou Elis Regina com a música chamada Arrastão...
Festival da Música Popular Brasileira, ela ganhou com aquela jogada da
hélice... Porque esse festival continuou de certa maneira no Paramount
com o Walter Silva que fazia shows no Paramount. Então ele lançou Wilson
Simonal, Jair Rodrigues, Elis. "Escravo do rei...", sabe aquele
pout-pourri da Elis e do Jair, foi ele quem bolou... não tô lembrado agora,
se não me engano, esse primeiro festival foi numa praia, não sei se no
Guarujá... numa praia, no teatro que ficava numa praia, entende?... |
|
A TV Excelsior foi uma
revolucionária na época? |
Foi uma revolucionária,
o programa Bibi Ferreira foi um sucesso incrível. |
|
Eles que trouxeram a
programação vertical e horizontal? |
Edson Leite. Foi ele
quem trouxe essa idéia? Claro, amarrar para uma coisa de audiência.
Esse negócio de audiência é engraçado. Porra, a Tupi era campeã de audiência.
Porra, baixo, naquele tempo, tinha o quê? 20 receptores em São Paulo!
Começou com uma emissora só, a Tupi. Era a primeira de audiência. |
|
Quando a Excelsior chegou
a Tupi sentiu? |
Sentiu muito... A TV Paulista
também fez uma carga, na época do "Beto Rockfeller" tinha uma
novela na TV Paulista com Cláudio Marzo que fazia uma concorrência terrível. |
Excelsior... eu acho
que começou em 60... Ela começou a incomodar quando? Logo de cara...
como chamava o programa da Bibi?... Era um talk show igual da Hebe,
ela cantava... Só que a Bibi tinha muito mais sabedoria, muito mais
ginga... recebia as pessoas, convidados, artistas, tudo. Foi na Excelsior?
Foi. Na Tupi havia coisa semelhante, mas o nível era pior, por exemplo,
Airton e Lolita Rodrigues... "Clube dos Artistas", "Almoço
com as Estrelas". |
|
Você tinha problemas
técnicos ou os equipamentos eram bons? |
A Tupi é o seguinte, nunca
teve equipamento legal para trabalhar... A gente ia fazer coisas e tudo
o mais, as duas câmeras estão aí, e tudo. |
|
Onde você buscava a linguagem?
|
Sempre cinema ou livro,
livro... |
|
|
|
E a composição fotográfica? |
Baixo, isso eu acho que era instinto... quer
dizer, tinha muita coisa de cinema, aquele menino John Ford... Por
exemplo, o Joyce me ajudou muito na gramática, no narrar as coisas,
entende? Ele com aquelas palavras montadas, aquelas coisas superpostas,
tudo. Eu lembro que uma das coisas que os caras se espantavam comigo,
por exemplo, você tá contando uma história, aí você lembra de uma
menina. Quando eu cheguei na Tupi, você desfocava, entrava uma musiquinha,
aí vinha a lembrança da menina. Não é assim na vida, eu tô aqui
falando, lembrei dela, tá ela falando, entende? |
Do meu lado que foi uma coisa que se passou
a usar também. |
|
Há um treco interessante,
eu acho que é do Maiakovisk que fala sobre produção horizontal e produção
vertical. Produção vertical é aquela coisa que é dirigida aos cabeças
de grupo que eles usam, por exemplo eu achei, eu acho que o "Móbile"
influenciou muito os caras de novela, passando para eles certas soluções
que eles usavam na produção horizontal, entende?... Porra, fui mesmo.
Você disse usado ou ousado? Ousado... Eu fazia os caras, "Porra,
eu não entendo o que ele quer?". Porra, até diretor de TV... chegava
para mim dizia: |
- "Baixo, o que você...
isso... não é assim." |
Eu dizia: |
- "É assim." |
|
|
Você não gostava de fórmulas? |
Não... quem era aquele cara
que fez... Robbe-Grillet quando foi fazer, não foi Hiroshima, foi... foi
um filme depois do Hiroshima, era o Alain Robbe-Grillet... que o autor
da história chegava e dizia assim: "Tem que fazer assim", "Mas
não se faz assim cinema", "Eu não tô querendo saber, tô dizendo
que é assim que eu imagino". E as soluções sempre foram. E eu acredito
muito, por exemplo, quando eu falei em livro, em cruzamento de veículos.
Então, por exemplo, você pega o cinema, livro, e eu uso tudo isso na televisão.
Acho que o resultado é muito interessante, do ponto de vista de criatividade. |
|
E o programa "Ensaio"?
|
"Ensaio" começou
em 69 na TV... chamava "Ensaio"... quando foi para Cultura chamou
"MPB Especial" porque eu não podia fazer "Ensaio"
na Tupi e na Cultura, não podia como diretor musical assinar, tem muitos
programas MPB que não tem meu nome, porque eu era de lá. Quem fazia a
direção de TV era o Antonino Seabra... |
|
|
|
|
Essa conversa vai continuar contando a etapa de Fernando
Faro e sua passagem pela Rede Globo e TV Cultura. E as produções de discos
e shows. |
|
|
|