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ANTONIO CARLOS
REBESCO, PIPOCA |
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Mestre! |
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Ensinar
é doação e dedicação. Essas duas coisas sobram nesse amigo. |
Nos
corredores das emissoras de televisão por onde passa ou nas salas
de aula, ele ensina não só como fazer televisão, mas também sobre
a vida. |
Eu
fui seu aluno ou melhor, ainda sou. Um eterno Professor! |
Antonio
Carlos Rebesco, mas todos o conhecem como Pipoca, me ensinou que
podemos cometer erros, mas também temos que ter coragem para repará-los. |
Ele
me mostrou que tudo é possível quando se quer. Isso ajudou a modificar
minha vida quando eu queria desistir. |
Pipoca
inovou as transmissões dos espetáculos de música e dança. Com ele
iremos agora percorrer um pouco da história de fazer televisão. |
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Mauricio
Valim |
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Início |
Eu praticamente comecei na televisão
junto com o início da tevê. Meu tio, Mauro Marcelino, foi um dos pioneiros
na televisão, era um iluminador muito conhecido que começou com a TV Tupi.
Me lembro que, desde criança, assistia televisão pra ver os trabalhos
do meu tio. Ele foi um dos primeiros, talvez da primeira leva dos profissionais....
Ele iluminava os programas "Tevê de Vanguarda" e "Tevê
de Comédia". Depois, na Paulista, ele iluminava o teledrama "Três
Leões". Então a minha cultura, o meu interesse por televisão, está
comigo desde a minha infância. Eu não sabia exatamente o que era o veículo
televisão, mas já estava interessado em ver, junto com a família, os trabalhos
do meu tio. Isso foi em 57, 58 e como não havia aparelho de televisão
na minha casa, íamos para a casa de minha avó...Íamos ver os espetáculos,
os musicais, os teatros. Então, eu comecei na televisão nesse contexto,
já vendo a televisão sobre um aspecto e um lado técnico, observando a
iluminação, observando as avaliações e o feedback dos comentários
do meu tio aos programas que nesta época eram todos ao vivo. Este foi
o meu início na televisão, foi como um espectador, mas um espectador um
pouco diferenciado porque eu tinha dentro de casa uma pessoa que era um
profissional, profissional respeitado, conceituado e que estava voltado
a grandes produções, a grandes espetáculos. Daí pra me profissionalizar
foi um passo... |
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A primeira oportunidade |
Eu me lembro que em 1966, meu pai atravessava
uma crise financeira grande. Ele tinha feito alguns investimentos e estava
muito difícil de pagar aqueles investimentos e esse meu tio, o Mauro,
chegou pra mim e falou: "Você precisa ajudar o seu pai, você precisa
trabalhar". O que é que eu faria? Nessa altura estava muito em moda
ser office-boy, o garoto começava por aí e depois fazia uma carreira
em escritório ou na área comercial. O meu pai tinha um comércio, mas eu
não gostava de trabalhar com ele. Então, o tio Mauro já não estava mais
na televisão, isso foi em 66, mas tinha muita amizade em vários canais...
Ele me levou pra Bandeirantes, em Setembro de 66. A TV Bandeirantes estava
dando um curso pra formar operadores pra televisão. A Bandeirantes vinha
com equipamentos mais modernos que havia no mercado, ela foi a primeira
emissora aqui em São Paulo que foi montada pra ser televisão. Então os
estúdios eram estúdios todos montados e equipados como estúdio de televisão...
66, ela foi inaugurada em 67... eu tinha 18 anos. Então, ele me levou
pra esse curso, só que quando nós chegamos lá, esse curso já tinha um
número final, que eram 15 pessoas, mas por influência dele, acabei conseguindo
que eu me tornasse o décimo sexto. Quando chegou a altura da contratação,
a Bandeirantes só contratou a metade. Os responsáveis acharam muito arriscado
começar uma televisão só com operadores, "minhocas", os novatos.
Houve um corte, dos 16 ficaram 8, enquanto que os outros 8 foram substituídos
por profissionais. Foram contratados os melhores profissionais da época:
Renato Petrauscas, José de Oliveira (o "Microondas"), Jerubal
Garcia, Ivan Magalhães... Meu tio então me levou imediatamente na TV Paulista
que estava sendo comprada pela TV Globo do Rio de Janeiro. Lá eu fiquei
3 meses em teste, sendo avaliado como um câmera novo, fazendo coisas simples,
como comerciais ao vivo, Telebox Everest, Tele Catch com Ted Boy Marino...
Após este tempo, fui aprovado e contratado como operador de câmera. Meu
primeiro registro profissional data de agosto de 67 pela TV Globo (Paulista
canal 5 - São Paulo). Fiquei como câmera, dois anos, foi muito bom. Trabalhei
em telenovela, no Programa do Sílvio Santos, Programa do Chacrinha, Homem
do Sapato Branco, transmissões ao vivo do Festival da Canção... |
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Pipoca |
No centro de São Paulo existia um bar/boite
"barra pesada" chamado Pipoca Drinks. Eu freqüentava o lugar
e numa das vezes em que eu estava lá, o meu professor de câmera, Roberto
Rodrigues Alves, me viu lá e a partir daí começou a me chamar de Pipoca...
Isso foi em 66... logo no início... fiquei sempre Pipoca. E é engraçado
porque muitos chefes de Estados me chamavam Sr. Pipoca... |
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Os comerciais ao vivo |
Era muito legal porque tinha sempre
o imprevisto, já tinha um know-how muito grande, tinham pessoas
altamente especializadas como Edy Newton - que depois se tornou um grande
diretor; o Ney Teixeira que era o encarregado por todos esses comerciais
e já era TV Globo, então era num padrão bastante bom. E depois ao vivo,
foram sendo substituídos por campanhas gravadas. Eu peguei praticamente
um período de transição dentro da TV Globo. |
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A diferença de produção naquela época
e agora |
Era muito esforço. Muito, muito trabalho,
muito acerto, muitos erros também. É, eu acho que hoje em dia tem um planejamento
muito melhor, enfim, hoje é muito fácil você fazer televisão porque está
tudo muito mais facilitado, as funções são mais definidas. Em contrapartida,
havia mais paixão, havia uma cooperação muito maior entre todos os envolvidos.
Hoje em dia, tudo é muito mais planejado, é muito mais esquematizado e
a TV Globo é a principal responsável por essa transformação, primeiro
pela qualidade e segundo pelo planejamento. |
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1968 |
Eu fiquei como câmera, fiz telenovela.
Foi muito bom porque em pouco tempo eu estava fazendo telenovela e câmera
da telenovela é o câmera que ganhava mais, tinha mais regalias, trabalhava
muito mais também, mas tinha muito mais privilégios... Eu fiz duas novelas
na TV Globo, uma foi "A Grande Mentira" com Cláudio Marzo, Míriam
Persa, Maria Helena Dias, Hélio Souto, Turíbio Ruiz e a outra foi "A
Cabana do Pai Thomás" com Sérgio Cardoso que era o principal ator
e a Míriam Mehler era a atriz principal, isso foi em 68... |
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Programa marcante de 68 |
Foi o show "Momento 68"
da Rhodia que aconteceu em 1968. Era um espetáculo com uma super produção
que tinha os maiores artistas e o maior elenco possível de manequins,
bailarinos, cantores. Eu me lembro que quem apresentava era o Walmor Chagas
e o Raul Cortês; no ballet estavam as maiores figuras; Leni Dale era o
coreógrafo, era um bailarino extraordinário, um profissional muito bom.
Esse espetáculo foi gravado em 3 noites seguidas. Como a televisão, durante
o dia, tinha a programação toda comprometida, então gravava-se a noite,
quando acabava a programação que era por volta de meia-noite, uma hora
da manhã e isso ia até a manhã do dia seguinte. Foi marcante. Para quem
está começando, pegar uma epopéia dessa... Foi muito rico, uma experiência
muito boa. |
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Os teleteatros |
Eu cheguei a fazer alguma direção de
TV com o Kiko Jaez em alguns espetáculos que ele dirigiu pra televisão...
O teleteatro é um espetáculo que tem começo meio e fim compreendido em
um espaço de tempo indeterminado. Pode durar um único dia... ou muitos
dias... A TV Cultura chegou a fazer em até 25 episódios. E o processo
era, basicamente, pegar uma peça de teatro e gravar pra televisão, mas
na linguagem da televisão. O teleteatro, se utiliza de uma linguagem bastante
teatral. E a Cultura é a que tem mais tradição nesse tipo de evento apesar
de ter parado há alguns anos. O grande diferencial entre teleteatro e
teleromance é a experimentação tanto de atores como de textos, que a tv
comercial não costuma fazer, ela não faz. |
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O teleteatro de maior sucesso |
Eu acho que foi "Vestido de Noiva"
de Nelson Rodrigues, dirigido por Antunes Filho. Eu acho que foi o que
marcou mais. |
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As telenovelas |
Eram muito legais os temas que foram
propostos, como "A Grande Mentira" que era um tema urbano e
foi muito bem feito. O diretor... primeiro foi o Fábio Sabag e depois
o Marlos Andreucci, que foi um diretor com quem aprendi muito. Foi um
profissional que dava uma abertura muito grande, aceitava sugestões além
de ter um conhecimento de manuseio de câmera muito grande. Gostei muito
pelo convívio com os atores. Esse convívio direto foi muito legal. Os
atores que vinham trabalhar nas telenovelas já eram atores que não tinham
mais os vícios do teatro e do cinema, já eram atores de televisão. |
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Como eram as câmeras |
Eram câmeras antigas, daquelas de você
mudar a lente e correr, a definição não era tão boa, mas enfim, na TV
Globo, isso rapidamente foi sendo melhorado. Então, quando eu entrei era
uma realidade em 67, já em 68 já havia uma renovação muito grande e as
câmeras eram de segunda mão, eram câmeras que vinham do Rio de Janeiro
que já tinham sido utilizadas nos Estados Unidos. Não eram câmeras novas,
mas aos poucos foram sendo substituídas por equipamentos mais modernos.
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Como era o envolvimento com o trabalho |
Quando comecei em TV eu era muito novo,
tinha muito pouca experiência. Eu trabalhava com operadores de câmeras
muito mais experientes do que eu, mas por outro lado, a boa vontade que
eu tinha, a vontade de acertar era muito grande o que dava um resultado
muito favorável. A gente fazia novela com 3 câmeras, uma na esquerda,
uma no centro e a outra na direita. Uma câmera trabalhava cruzado e a
outra segurava a situação no centro. Eu sugeria coisas, mas que nem sempre
eram pertinentes. Com o tempo você vai aprendendo. Eu trabalhei na primeira
novela com o David Grinberg (atualmente diretor do SBT) e com o Francisco
Carlos, era uma pessoa fabulosa, um profissional que tinha um conhecimento
de angulação, de lentes e de câmera que facilitava muito. Ele sabia exatamente
o que queria. Em 68, aconteceu uma passagem curiosa: num musical internacional
que a Globo fez, ele era o diretor e eu câmera. Eu, tentando facilitar,
mudei uma lente, mas ele falou: "Pipoca, espera, volta naquela lente,
e daqui a pouco você vai ver que vai estar certo". Foi o tempo dele
falar, do instrumento tocar e dele cortar certo. Foi muito gratificante
a oportunidade de estar com esses diretores numa época em que TV Globo
estava numa ascensão muito grande, me facilitou muito. Adquiri uma experiência
muito grande de percepção, de ver como é que se faz. |
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1969 |
Em 69, o diretor técnico da TV Globo,
Renè César Xavier dos Santos, saiu e foi montar a TV Cultura. Ele foi
um dos engenheiros responsáveis pela montagem da TV Globo no Rio, e veio
pra São Paulo no período de reformulação da Globo. Antes mesmo da TV Cultura
inaugurar, eu fui um dos primeiros câmeras a ser chamado. Quando eu fui
visitar a TV Cultura, fiquei encantado porque naquela altura não tinha
nada parecido, a nível de organização, de equipamento, de instalações.
Eu não tive dúvidas, fui pra TV Cultura com o objetivo de crescer profissionalmente,
de voltar a estudar, me formar, de me especializar fora do Brasil. E tudo
isso eu acabei, com o tempo, conseguindo. No dia 14 de Maio de 69 fui
registrado na TV Cultura... e foi lá que fiquei até 92. Neste período
passei por oito funções (Câmera, Diretor de TV, Produtor, Diretor de Programas,
Diretor Adjunto de Programação, Diretor de Produção, Diretor de Operações
e Diretor de Projetos Especiais). Matematicamente, poderia dizer que três
quartos do que eu fiz em televisão foi na TV Cultura. |
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Primeiros trabalhos na TV Cultura |
Participei como câmera da implantação
de todo o sistema educativo; aulas de Português, de Matemática, de Física
... |
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Programas que inovaram |
"Jovem Urgente" do psicólogo
Gaudêncio, foi premiado. |
"Vila Sésamo", um programa
educativo infantil muito bem planejado. |
"Meu pedacinho de chão", com
Renèe de Vielmond, Maurício do Valle, Canarinho. Novela que foi feita
na Cultura, escrita pelo Benedito Rui Barbosa. Um dos diretores era o
Dionísio de Azevedo que foi o máximo trabalhar com ele porque era um homem
que sabia mudar muito bem uma cena e o diretor de TV era o Gonzaga Blota,
premiadíssimo diretor de novelas. Foi muito interessante ter feito essa
novela pois tinha um cunho educativo. |
As transmissões de esportes da TV Cultura
também foram inovadoras. A primeira "Taça Davis" de tênis foi
transmitida pela TV Cultura... box, vôlei, basquete. |
" Primeiro Grande Prêmio Fórmula
3" quando o Emerson retornou ao Brasil. |
A TV Cultura foi uma escola, uma das
pioneiras, uma escola de televisão em São Paulo, até pelo fato de no início
ela estar ligada à Universidade de São Paulo, a Escola de Comunicação
e Artes e ir absorvendo alunos que saíam da ECA , alguns brilhantes profissionais:
Marcelo Amadei, Luiz Antonio Simões de Carvalho, Rita Okamura entre muitos
outros que passaram pela TV Cultura deixando-a mais rica. E também depois
a FAAP, por intermédio meu e de outros professores, acabamos trazendo
um elenco de formandos e de estudantes... isso acontece até hoje. Não
só a ECA e a FAAP alimentam a TV Cultura, mas hoje, felizmente, todas
as emissoras de rádio e televisão em São Paulo. |
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Vila Sésamo |
"Vila Sésamo" foi muito interessante
porque me deu oportunidade de trabalhar com artistas extraordinários,
como Sônia Braga que hoje é uma grande estrela internacional, o falecido
Armando Bogus que era um cara muito engraçado, o Laerte Morrone que era
o Garibaldo, o Roberto Orosco que fazia o Gugu. Foi muito legal, foi um
trabalho muito inovador. |
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A criação na TV Cultura |
A TV Cultura sempre foi um laboratório,
a gente tinha vantagens de não ter um compromisso imediato com o Ibope.
Muitas coisas inovadoras ao nível de dança, de música e teatro, foram
feitas na TV Cultura. O conhecido diretor de teatro Antunes Filho, por
exemplo, obteve recursos operacionais na Cultura que em outra empresa
não obteria. Não só o Antunes Filho, mas muitos outros realizadores culturais.
A TV Cultura sempre funcionou como laboratório, de lá saíram grandes criações. |
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O processo de mudança de câmera
para diretor de TV |
Desde o meu início como câmera
percebi que poderia progredir, ter uma evolução profissional. Cedo
percebi que eu poderia desenvolver a minha carreira em várias outras
funções, apesar de eu gostar muito de ser câmera. Em 1972, cheguei
no diretor de produção da televisão que era o Felix Aidar e pedi
a ele para estagiar como diretor de TV durante minhas férias. Eu
estagiei com Dorival Dellias (o Chatô), Arruda Neto, Ítalo, Irineu
De Carli, Emílio Rodrigues (o Major), Freitas, com os diretores
de TV que trabalhavam na Cultura. Alguns foram muito generosos comigo.
Me deram muito boas oportunidades. Sou grato até hoje. |
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Professor universitário |
Em paralelo com o início de carreira
como diretor de TV, comecei uma carreira como professor na FAAP. Foi muito
interessante. Comecei dando aula na Faculdade de Comunicação da FAAP que
tinha Jornalismo, Publicidade e Propaganda, e Relações Públicas. Ainda
não existia o curso de TV. Somente em 1979, com o fechamento do curso
de jornalismo, iniciou-se um curso chamado Polivalente. Era um curso que
abrangia os vário setores da Comunicação. Este curso foi o embrião do
curso de Rádio e TV. |
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Influências na carreira |
Fui influenciado por vários profissionais,
em diferentes aspectos. O Marlus Andreucci pelo comando, pela firmeza
e pelo envolvimento emocional com o trabalho. O Chatô, um dos melhores
diretores de TV que o país possui, me influenciou bastante porque trabalhei
muito com ele e consequentemente acabei assimilando muito da maneira do
comando dele. O Irineu De Carle no esporte, que ele fazia muito bem. O
Arruda Neto também. Eu gostava muito do estilo dos musicais da Record.
Então, também como espectador, assimilei muito com Nilton Travesso, Antonio
Augusto Amaral de Carvalho (Tuta), Waldomiro Barone, J. Gianotti, Salvador
Trédice... Quando ainda garoto, acompanhando o meu tio iluminador, eu
ia ver muitas gravações de programas e assisti muito "Jovem Guarda",
"Fino da Bossa". Aqueles programas marcaram muito a minha formação
pelo plano teatro, platéia, televisão. E têm os musicais do Vanucci, talvez
um dos grandes mestres, junto com Nilton Travesso... Também tem um colega
meu que foi câmera junto comigo, que hoje é um excelente diretor, o Aluísio
Legey. Os musicais que ele produziu pra TV Globo e continua produzindo,
são de extremo bom gosto, de extrema qualidade. Todos foram e continuam
sendo importantes. |
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Início dos musicais |
Assim que comecei a fazer direção de
TV, pelo fato de gostar muito de música, eu comecei a propor algumas coisas
ligadas à música. Descobria um musical acontecendo, propunha a gravação,
ia lá, gravava, editava, exibia... Não tinha muita formalidade. As coisas
aconteciam pelo grau de confiança e de profissionalismo. O primeiro programa
que produzi foi o "Ponto de Encontro". |
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Estágio na França |
Foi uma história interessante porque
eu fazia direção de TV de um programa chamado "Le Français Chez Vous",
da TV Cultura e que uma vez por ano premiava um ou dois telespectadores
com uma bolsa de estudo. E em uma vinda do adido cultural ao estúdio da
TV Cultura ele começou a conversar comigo... e acabou me contemplando
com um estágio de 2 meses em Paris, o que foi muito rico. Acabei sofisticando
bastante minha formação e tendo uma visão bastante variada da televisão.
Foi muito bom porque eu estava praticamente começando como diretor de
TV e tive a oportunidade de conviver com ótimos diretores da TV francesa:
o Jean Cristhofer Averty que é o mestre da imagem; tive a oportunidade
de acompanhar um trabalho do Averty durante 15 dias. Também conheci de
perto o trabalho do Roger Benamour, André Frederick, Jack Chancel, um
produtor extraordinário. Foram 57 dias em que eu passei em Paris e passando
em vários estúdios, vendo e vivenciando variados tipos de produção. Foi
muito rico e isso me deu abertura cultural muito grande... |
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Estágio na Suíça |
Na Suíça foi em 78... no Festival de
Jazz... A TV Cultura quando se envolveu no Festival de Jazz, designou
uma equipe para cuidar do programa. Um profissional na área administrativa,
uma pessoa para a produção, e eu fui indicado para ser a pessoa de televisão.
Então, juntamente com o César Castanho, fui pra Suíça. Ele cuidando da
parte de palco e eu da parte de transmissão. Mais tarde foi o Zuza Homem
de Mello que estava cuidando da programação. Fiquei um mês na Suíça vendo
tudo o que era feito com a TV Suísse Romande. Procurei conviver com produtores,
diretores, iluminadores, câmeras. Eu fui ver como é que se fazia. Aprender
com o know-how deles que faziam o Festival há 12 anos. Chegando
no Brasil apliquei todos os conhecimentos obtidos lá. E o resultado final
acabou sendo muito bom . A repercussão foi extraordinária. Fui premiado
como melhor diretor do ano pela APCA e acabou sendo o modelo de transmissão
o que eu acho ótimo. É gratificante saber que de alguma maneira contribuí
para a implantação de uma estética diferente. |
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Festival de Jazz no Brasil |
Em setembro de 78 aconteceu a primeira
transmissão do Festival de Jazz no Brasil. Foram 8 dias seguidos. Manhãs,
tardes e noites ininterruptamente. Foi uma jornada muito grande porque
assistíamos o ensaio de manhã, assistíamos o show a tarde fazendo as decupagens
e à noite transmitíamos ao vivo. Os principais artistas eram Astor Piazzola,
Check Corea, Milton Nascimento, Mingos Dinasty, Dexter Gordon, Franco
Rossolino. Em 79, repetimos a dose e aí tivemos Wood Shaw, Peter Tosch... |
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Reconhecimento |
Felizmente com o Festival de Jazz tivemos
muito reconhecimento por parte da mídia. Foram muitas matérias citando
este trabalho. E isso é gratificante... para toda a equipe porque todos
se envolveram de uma maneira apaixonada pelo evento que era grandioso.
Foi uma empreitada muito vitoriosa. E a partir desde momento passei a
ser chamado por outras televisões como a Bandeirantes, Record e Globo,
para fazer trabalhos relacionados ao mundo da música. E assim participei
da construção do acervo musical da televisão brasileira: Chico Buarque,
Elis Regina, Tom Jobim, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Edu Lobo, Maria
Bethânia, Gal Costa, Djavan. E mesmo durante a minha permanência em Portugal
(de 90 a 97) fiz cerca de 15 viagens ao Brasil para dirigir shows para
a TV. |
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O amigo Travaglia |
Em muitos destes musicais tive a honra
de ter na equipe o extraordinário profissional Carlos Travaglia, com uma
iluminação sempre inovadora e sempre dando apoio e idéias. O Travaglia,
nesses 30 anos, talvez seja um dos caras mais importantes da minha carreira
porque o ele é um diretor. Talvez ele não perceba, mas ele é um diretor
de televisão, pois além de ser um iluminador extraordinário, ele é um
diretor de fotografia magnífico, é um criador. É um profissional com muito
know-how de tudo que acontece em TV. O Travaglia é um cara que
tem soluções para muitas situações e para minha felicidade nesses anos
todos, em muitos trabalhos que eu fiz, talvez ele tenha sido o cara mais
importante nos bastidores. Não só pelas "mágicas" de iluminação,
mas muito mais pelas idéias de angulação de câmeras, de estética. É um
cara de um bom gosto elevadíssimo, quer dizer, um profissional completíssimo.
Além de hoje ser meu grande amigo de todas as horas... |
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Direção
de Musicais |
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Como
diretor de musicais, o que marcou bastante foi o "Ponto de
Encontro" e o "Jazz Brasil"... O "Ponto de Encontro"
era um programa que reunia um ou mais artistas falando da sua carreira.
E era gravado aquilo que ele estava apresentando naquela altura.
Por aí passaram Marina, Gonzaguinha, Roberto Ribeiro, Luiz Airão,
Hermeto Paschoal. Passaram os maiores nomes da Música Popular Brasileira,
Ivan Lins mais de uma vez, Beth Carvalho... isso começou em 74,
75. Já o "Jazz Brasil" também foi um marco na música instrumental,
na tevê no Brasil. E esta série começou de um modo curioso: em 85
fui convidado pela Globo pra fazer o Free Jazz. E nos bastidores
conversando com o Robertinho Silva, ele me falou do projeto do show
que ele iria apresentar... Era um senhor de cabelos brancos, um
baterista extraordinário, respeitadíssimo no mundo inteiro, falando
do projeto mais importante de sua vida até então... E aí veio uma
ordem de não se gravar os músicos brasileiros por falta de espaço
para a exibição. Aí nasceu a idéia do "Jazz Brasil". Os
primeiros a serem chamados foram os preteridos do Free Jazz. E por
ali passaram os maiores músicos brasileiros. Foi um programa muito
bonito. |
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Produção de musicais |
Para se produzir um programa - de música,
de dança ou qualquer outro assunto - há que se ter amor e envolvimento
com o que se quer produzir e ir além: há que se transferir esse amor e
essa intenção para pessoa com quem você vai trabalhar. A confiança tem
que ser mútua, para que essa interação passe para o telespectador. Um
dia procurei o Nelson Gonçalves para falar com ele sobre um especial para
televisão. Pedi opiniões, sugestões sobre locações... E aí ele falou que
estava assustado: "Não estou acostumado a isso", avisou. Ele
estava acostumado a executar coisas que vinham previamente estabelecidas.
Mas eu queria que ele criasse um roteiro a partir da história dele, um
artista polêmico. Apesar de ser, incontestavelmente, um dos grandes cantores
do Brasil, teve uma trajetória muito tumultuada, com prisões, com separações.
E eu queria saber da versão dele. O resultado foi muito interessante.
Gravamos no ponto onde ele comprava a droga, no Largo do Arouche, no Ipiranga
onde ele tinha um drive-dance, gravamos com o irmão dele no Pari... E
produzir é isso, é ter esse carinho, esse amor e respeito por aquilo que
você não sabe mas que quer transferir para o telespectador. Quando eu
vou fazer um musical é muito importante eu ouvir o músico, conseguir traduzir
em um programa de televisão o que ele tem de mais essencial e diferencial
do outro. Então é trabalho de conjunto. Eu acredito que felizmente tenho,
nesses anos todos, conseguido mais vitórias, justamente por ter essa abertura,
essa flexibilidade... |
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História da Elis |
Tem uma história bastante curiosa: a
Elis estava com o "Elis, Essa Mulher" em cartaz e a gravadora
estava empenhada em gravar este espetáculo... Ela aceitou, mas me impôs
um condição "Pipoca, eu faço, mas com um contrato com limite de exibição.
Não quero que aconteça com este especial o mesmo que acontece com o programa
que fiz com o Faro. Que está sendo reprisado inúmeras vezes...".
Aceitei, e foi feito esse contrato, prevendo duas exibições e uma multa
astronômica caso esta cláusula fosse descumprida. Gravamos aquele que
foi praticamente o último espetáculo da vida dela. Curiosamente, no dia
em que ela morreu, fui atrás dessa fita, que para espanto de todos havia
sido apagada. O último show dela não existe... Uma cópia foi entregue
para a própria Elis, mas ela deu para um empresário francês e depois com
a morte dela ninguém mais soube deste material... Esta história é interessante
para se atentar da necessidade de se criar o hábito da preservação da
memória da nossa cultura. |
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Programas de dança |
Também fiz muita coisa ligada à dança:
"Corpo de Baile", "Coreografia"... Aliás, fui um dos
produtores que mais fez programas de dança, sempre seguindo a linha de
produzir em conjunto com o coreógrafo. Fazendo uma captação que fosse
em encontro com os movimentos idealizados pelo coreógrafo, pois é ele
o autor da obra. A idéia da série "Corpo de Baile" surgiu em
um reveillon na casa do Carlos Queiroz Telles, diretor Cultural da TV
Cultura. Nesta festa estavam o secretário da Cultura; o diretor do Corpo
de Baile, Antonio Carlos Cardoso; sua assistente, Iraciti Cardoso... E
ali mesmo começamos a "bolar" o programa... E acabamos fazendo
uma série premiadíssima, com o reconhecimento da crítica. Eu, neste mesmo
ano, recebi o prêmio de melhor diretor de televisão e um prêmio de menção
honrosa da crítica de dança em reconhecimento ao conjunto da obra produzido
para televisão... |
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Criação |
Criação... eu acho que um dos grandes
segredos da direção é você juntar todas as peças da equipe. E melhor ainda,
é quando se pode juntar as peças com planejamento. Na Europa se planeja
com muito mais tempo, lá o dinheiro é usado boa parte em planejamento.
Aqui no Brasil existe uma técnica de captação muito desenvolvida, com
uma linguagem de televisão muito rica. Todo esse know-how poderia
ser mais planejado... Acho que poderia se gastar muito menos tempo na
edição e mais tempo na criação e no ensaio. O brasileiro não tem a cultura
do ensaio, e não gosta de ensaiar. É lamentável, pois nem sempre de bossa
você consegue ter o efeito que você imagina. Tenho certeza, por experiência,
que ensaiando, se pode criar em cima da criação. Então, na minha opinião,
nós profissionais brasileiros pecamos muito em conseqüência dessa fobia
de querer fazer de primeira. |
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Eventos importantes |
Aconteceram muitos eventos muito importantes.
Os "Free Jazz" (participei de 6). Teve a "2ª Teleconferência
da AIDS", feita no Rio de Janeiro, ao vivo, para vários países do
mundo, em vários idiomas. Fiz o "Hollywood Rock", o Sting no
Maracanã, Zubin Metha, Carreras em Curitiba, Rod Stweart, "Os Três
Tenores" no Morumbi, "Rock in Rio" dirigindo o canal Tenda
Brasil... |
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Portugal |
Portugal foi uma experiência muito legal,
até mais pelo lado pessoal do que pelo lado profissional. Foi um período
que eu pude me voltar pra dentro de mim mesmo. Quando você fica sozinho,
você faz um balanço da sua vida. Fui chamado para trabalhar lá em 90,
quando houve abertura para a televisão comercial portuguesa, e lá fiquei
até 97. Dirigi 17 séries portuguesas. Neste período vim muitas vezes ao
Brasil, fazer musicais, assim não perdi o contato com o Brasil, acabei
mantendo minhas relações profissionais. Mas acho que a grande experiência
que eu ganhei indo pra Portugal foi a noção de tempo. Na Europa, o tipo
de vida é mais calmo. Por mais correria que se tenha para fazer um programa,
a coisa é mais bem planejada e o tempo que se gasta é maior. Então, não
que o produto seja muito melhor do que se faz aqui. Tem muitas coisas
boas e outras que não são tão boas. Mas eu acho pelo tempo que se tem,
o desgaste é menor. |
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Diretor do "Domingão do Faustão" |
Ah, foi interessante, porque eu fui
trabalhar com o Roberto Talma que é um cara bastante experiente, apesar
de às vezes um pouco estressado. |
Quanto a figura do Faustão eu penso
que ele deveria buscar novos caminhos, ele próprio... |
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Promofilm, produtora argentina |
Em 2000 participei de dois programas
para a "Promofilm", uma produtora argentina que estava prestando
serviços para a Bandeirantes. Foi muito bom, eu acho que foi uma experiência
muito boa e projetos muito bons. A Argentina é muito mais européia do
que o Brasil, então como experiência foi muito rico. Eu trabalhei no Brasil
em moldes europeus. É ótimo, porque o Brasil é um país fascinante e se
você puder trabalhar com requinte europeu, é melhor ainda. |
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A televisão hoje |
Eu acho que tem muita coisa boa. Há
uma renovação muito grande e a televisão caminha para uma segmentação
maior. Em breve teremos canais mais específicos com programações muito
mais definidas. Agora, as tevês mais genéricas, estão numa guerra muito
grande. Nas minhas aulas costumo falar muito em duas coisas: ética e humildade.
Ética porque uma carreira tem a vida toda, a carreira não é feita de um
evento... de um único sucesso. E um sucesso pode vir precedido de 20 fracassos.
E a humildade porque por mais que você saiba, quando você começa um projeto,
quando você começa em um canal, ou uma programação, é um desafio e esse
desafio implica em você ter que se reformular e para reformular você tem
que ser humilde. A televisão é um veículo extraordinário, mas hoje se
tornou um exercício com muita solidão, muitas vezes as coisas estão sendo
resolvidas sem que todos os envolvidos sejam ouvidos. Equipe. É assim
que eu prefiro trabalhar. Gosto de saber a opinião de todos. A dúvida
é um fator que faz parte da criação. |
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