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Depoimentos de pessoas que fazem a história da TV.
 
GONÇALO ROQUE
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Gonçalo Roque
  Todos os domingos, o mesmo nome: "ROQUE!"
Quando precisa de ajuda o animador Sílvio Santos logo recorre a seu fiel escudeiro.
De rapaz prestativo e dinâmico da antiga Rádio Excelsior, Roque transformou-se no mais conhecido animador de platéias.
Sempre cuidou das colegas de trabalho com muita elegância, fazendo escola na arte de cuidar de um auditório.
Nessa divertida entrevista, mostrou que televisão sempre fará parte de sua vida.
"Eu não sei se o 'seu' Sílvio Santos vai deixar eu pendurar as minhas chuteiras. Se não, vou carregar a bengala para ele também. Vai ficar nós dois velhinhos andando por aí, ele fala e eu bato palma, porque essa é a minha vida." - Gonçalo Roque
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SORAYA COSTA e RENATA FIORDELISIO
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Nome e onde nasceu

Meu nome é Gonçalo Roque e eu nasci em Boa Esperança do Sul, Interior de São Paulo. Vim para a capital com dezesseis anos. Morei no Tucuruvi, na época em que tudo era difícil. Eu nasci no dia da mentira, mas graças a Deus não sou mentiroso. Sou de 1937, 1º de Abril... Graças a Deus!

 
Quando começou a trabalhar na rádio
Eu comecei nos anos 50, na Rádio Excelsior, na antiga Rádio Nacional, pertencia ao Víctor Costa, Organização Víctor Costa.Iniciei a minha vida trabalhando em protocolo, ajudava na portaria, entregava cartas, ia fazer cobrança e serviço de boy. Nesse vai e vem, nas horas de folga, ajudava no programa do Manoel de Nóbrega, dava uma mãozinha. Aí foi quando eu conheci o Sílvio, pegamos aquela amizade, e hoje, naturalmente, a diferença entre eu e o Sílvio Santos só é uma: ele não sabe onde guardar dinheiro e eu não sei onde achar. (risos)
 
Como era a vida dos artistas na rádio
Era melhor do que hoje! Porque naquela época, as pessoas para participarem dos programas de rádio, para cantarem, tinham que ter qualidade. Hoje, não. Hoje é tudo visual. Cara feia, meu filho, desiste e se for pobre, então, coitado, nem pense. Então, hoje, a vida é assim. Você vê programa de televisão, todo mundo quer ver mulher bonita. Hoje tudo é visual.Na época dos galãs, nos anos cinqüenta, sessenta, eu organizava o auditório e alguns artistas pediam para a gente preparar alguém para desmaiar, para gritar... e um dia eu tive um problema lá na Praça Marechal. Eu preparei uma para gritar e desmaiar, mas na hora em que ela tinha que desmaiar, ela caiu, bateu a cabeça num lugar e desmaiou mesmo. Essa me deu um problema, mas graças a Deus foi tudo consertado. Naquela época a gente preparava, hoje você vê como é que é: hoje tem a televisão, hoje tem tudo para fazer os artistas. Hoje os caras têm investimento. Só investem em quem vai ter lucro. Está entendendo? Hoje ficou tudo mais fácil.Mas tem que ter cabeça para mexer com o auditório... Você vê aqui, quarenta anos que estou ao lado de Sílvio Santos. Pelo que eu vi, já até sei que ele vai deixar de herança para mim... vai me deixar a Dercy Gonçalves e a Vera Verão (risos). Mas eu estou contente. É um homem e tanto, é um grande patrão, é um grande amigo.
 
Roque e Vera Verão Roque e Vera Verão
 
Na Rádio Nacional

Olha, na minha época sempre gostei e adorei a Rádio Nacional, hoje Rádio Globo. Então, naquela época, tinha os programas de madrugada... cedinho, começava às cinco horas, "Alvorada Cabocla" do José, depois teve também os velhos e muitos apresentadores, as duplas antigas, que eu cheguei a ver, que eu conheci. Hoje existem poucos deles. Às vezes, na portaria, sempre chegava alguém para fazer um teste. Tinha concurso de violeiros, quem eram os melhores. Naquela época tinham muitas duplas como tem hoje. Só que hoje, infelizmente, o Brasil tem muitos artistas que estão perdidos por aí. Mas coitados, como é que eles vão chegar ao encontro de apresentadores como os de hoje. Hoje é difícil. Hoje você sabe que para entrar numa televisão é difícil. Para você ir à uma rádio, você sabe como é: se não tiver amizade na rádio, você não entra. Naquela época, as portas eram mais abertas aos artistas e para todo mundo que queria conhecer. Tinham pessoas que dormiam na rua para assistir o programa Sílvio Santos. Eu estava lá atendendo! Vira e mexe, eu me encontro com uma senhora com quase cem anos, ela fala que era menininha e que me conhecia... Ô! Estou tão velho assim? (risos)

 
crachá da Rede Globo - 1974
 
crachá do SBT
 
Contratação pelo Sílvio Santos
Então, nessa época, eu já ajudava nos programas de auditório do Manoel de Nóbrega. Eu me lembro que além de ajudar na portaria, comecei a botar as pessoas nos lugares. E aí, comecei a controlar os auditórios. O Sílvio passou a ter os programas dele. Ele era funcionário também, depois veio a televisão e ele começou a ter os programas dele. Só que lá o Sílvio era empregado na Víctor Costa, depois a Globo comprou. O Sílvio me convidou e eu passei a organizar os auditórios. Eu cuidava de todos os auditórios da Globo, eu era o responsável. Sempre controlando os auditórios da Globo e os dele, na época que tinha o Moacir Franco, trabalhei com o Chacrinha, e uma notícia boa, trabalhei com todos os apresentadores que você escutou falar, eu já trabalhei. E o Faustão também, quando ele estava na Bandeirantes. É que eu fazia meus bicos. Quando saiu o canal de televisão do Sílvio Santos, ele chegou e falou: "Olha Roque, eu quero que você venha comigo, trabalhar comigo no novo SBT, ele falou com a diretoria da Globo, um diretor que devo muita obrigação para ele, uns dos melhores diretores da época, Francisco de Abreu, que foi diretor do Sílvio também. Ele me liberou. De lá pra cá, eu comecei sempre organizando os auditórios do Sílvio Santos. Hoje você sabe como é que é, eu tenho mágoa de alguns apresentadores, mas não vou falar nada porque não fica bem, mas foram pessoas que quando começaram, pediram minha ajuda e ajudei, não tinham público e hoje têm. Agora, eles não lembram mais da gente, mas não tem problema nenhum. Porque a vida é cheia de surpresas.
 
"Topa Tudo Por Dinheiro"
 
"Topa Tudo Por Dinheiro"
 
Animando auditório do Gugu
 
Auditório e os bicos
Na época dos auditórios eu fui o primeiro. Lidar com o auditório, é no gogó mesmo. Você antes bate um papinho com a turma... Pede para a turma: "Olha quando entrar o fulano, vamos aplaudir". Eu fui uma pessoa muitas vezes contratada, quando tinha uns cantores que estavam meio caídos... então eles vinham para o programa e eu levava a mulherada lá pra gritar para eles. Na época dos galãs, eu levava as pessoas também. Igual quando vieram os Menudos para o Brasil, eu fui com uns seis ônibus para o aeroporto de Congonhas. O pessoal da gravadora pediu para recepcionar os caras e eu levei. Foi a primeira vez que eu quase fui preso... Porque eu levei uma turminha da bagunça e chegava aqueles gringos e a mulherada gritando, todos trepando em cima daqueles sofás... era uma onda que a gente fez pra receber, porque os caras chegavam no Brasil e era para ver que eram bem queridos mesmo. Ah! Quando os artistas entraram foi aquela zoeira... mulher gritando, berrando... O segurança me chamou lá e perguntou: "Pô, o senhor é o responsável?" Aí, eu falei: "Não, eu vim junto para ver os artistas". Eu tive que dar uma desculpa porque os caras queriam me prender. Mas no final, foi tudo bem, foi um sucesso. E hoje em dia, você sabe, as coisas estão diferentes. Hoje em dia eu tenho tudo. Se algum cara chegar "Ô Roque, morreu um cara lá, coitado, ele é mais ou menos bem de vida e não tem ninguém para chorar no velório..." Nós levamos gente lá! Tem aquela velha que chora, tem aquela velha que desmaia, temos tudo... é verdade!
 
Roque agendando caravanas Agendando caravanas
 
Como se organiza um auditório
Você sabe que hoje, muitas pessoas que assistem televisão vêem aquela mulherada bonita lá na frente. A gente então, nessa época, tinha sempre que conversar com o auditório, vinha aquela senhora, vinham aquelas velhinhas... Mas coitada da velhinha, não ia agüentar um programa de cinco, seis, sete, oito horas... Então, a gente começava primeiro pegando as menininhas e colocando lá na frente. Isso eu digo, porque a coisa que eu mais entendo é de auditório. Então eu começava a colocar as menininhas. O Sílvio Santos sempre falava: "Coloca na primeira fila menininhas de catorze, depois menininhas de dezessete, depois, lá trás, de cinqüenta, lá no fundão... noventa". Então, a gente tem que fazer o auditório assim. Você entendeu? Porque quando as meninas ou senhoras começam a cansar, a gente troca de lugar, por que o programa é corrido. Hoje, um auditório parado, um auditório de senhoras são alegres no começo. Mas depois elas não agüentam, coitadas. Elas cansam e aí? Como acontece? Então hoje, se um auditório não for vibrante... Quando você assiste televisão e vê muitas meninas bonitas, percebe, elas são modelos. Eles contratam para botarem ali. Mas nós do Sílvio Santos não temos modelos. Se eu digo para você que às vezes as pessoas pensam: "É pra vir no programa só mocinha, não pode velha, não!" No SBT pode vir senhora, pode vir menininha, só não aceitamos homem porque ele não ajuda, não aplaude. Se você vai com o seu marido num programa, você vê um cara bonitão, você fala: "Uh!" Teu marido já te dá um beliscão, não é verdade? Então, é isso: a mulherada vibra, a mulherada torce e o homem só fica com aquela cara feia dando cotoveladas. Então é por isso que homem não entra.
 
"Topa Tudo Por Dinheiro"
 
"Topa Tudo Por Dinheiro"

 

Como aprendeu a lidar com o auditório
Veio da minha própria cabeça. E muitas coisas eu aprendi. Hoje, vou dizer um segredo, eu não poderia falar isso, mas como você é uma pessoa bacana, tem que saber. Para selecionar mulher bonita em auditório, isso ofende as pessoas. Se você vai em auditório com vinte mulheres, só tem você bonita e as outras são feinhas e preciso de mulher bonita, como eu vou tirar você? As outras vão ficar com raiva, não é verdade? Então, uma coisa que a gente aprendeu com o tempo: mulher, eu vejo cinco bonitas, eu vou pelas cores. "Ei você de camisa verde... você de camisa amarela..." Aí eu tiro essas e as outras não ficam ofendidas. Daí se monta um auditório tranqüilo, não é verdade? Se eu trouxer quinhentas mulheres para aplaudir no auditório, eu chego lá e falo que eu quero cinqüenta mulheres bonitas para ficar aqui, aquelas quatrocentas e cinqüenta vão se revoltar, não vão participar e vão só vaiar. Então hoje tem que saber conversar com o público. Você tem que ter educação e dedicação para aquilo que está fazendo. O respeito é tudo.
 
Auditório no SBT
Não existe no Brasil o esquema que o SBT tem. Foi isso que o Sílvio falou e hoje, eu estou falando aqui. O SBT é a única emissora que dá atenção ao seu público. Nós mandamos buscar em casa, a nossa caravana. É tudo de graça. Tive que fazer uma modificação aqui no SBT. Começou a aparecer uns problemas com pessoas que cobravam para vir aqui. As pessoas davam tudo e ainda cobravam! Depois que as pessoas largam tudo em casa para vir a um programa, ainda têm que pagar? Não dá, né? Então, aqui é tudo de graça. As pessoas chegam de manhã, descem, vão para a sala de visitas que o Sílvio construiu especialmente para o nosso público. Tem segurança que leva você lá dentro, tem água gelada, tem água sem gelo, tem banheiros em ordem, tem tudo dentro do banheiro, tem um cafezinho, tem uma bolacha. Quando vêm para o auditório, participam das bagunças que o Sílvio faz dentro do auditório... Como hoje, as meninadas que vieram no "Tentação", umas trezentas meninas, ganharam quarenta e cinco reais, cada uma. E quando termina o programa, nós ainda fornecemos um lanche e assim o pessoal sai com a barriga cheia daqui. Eu sou daquela época que quem trazia marmita, comia. Quem não trazia nada, passava fome. Naquele tempo era tudo difícil. Hoje, graças a Deus, são coisas que me prendem dentro do SBT, que me orgulho. Quando iniciou o SBT, eu falei para o Sílvio que as coisas eram longe daqui, ia ficar mais difícil para o povo. Ele falou: "Você não vai ter problema". Hoje, graças a Deus, todos os programas que temos aqui são bem organizados. O departamento e a diretoria estão a par de tudo. Nós temos um departamento de caravana aqui dentro do SBT. Temos a gerência e temos toda a meninada que trabalha comigo. Você viu que a alegria é tudo.
 
O programa que marcou
Isso é importante para você e para quem gosta de televisão - o programa que mais marcou, para mim e praticamente dentro do SBT, foi o programa "Show de Calouros". O Brasil todo parava para assistir. Para mim, foi o melhor programa do SBT e foi o programa que mais marcou na nossa empresa, em nossa casa aqui.
 
Júri do "Show de Calouros"
 
Hoje, os programas do SBT
Hoje o Sílvio faz uma renovação na televisão, se continuar tudo sempre do mesmo jeito, aquelas novelas eternas que nunca acabam... Então o Sílvio está assim, quando ele cisma, ele faz uma renovação na programação e muitas coisas boas dos velhos tempos voltam. Eu nunca, na minha vida, gostei de novela e não gosto. Se você vê as novelas de hoje e as de antigamente, hoje você vê a depravação. Naquele tempo você via uma novela, você chorava. E a mesma coisa dos filmes românticos. Assistia um filme lindo, a gente ia para o cinema com a namorada. Aprendia até abraçar a namorada, aquelas coisas lindas. Hoje só vê desgraça na televisão, só vê isso e aquilo.
 
Histórias que marcaram
Tem muitas histórias. Um dia que me deixou um pouco chateado, foi na Ataliba Leonel. Eu cheguei, e você sabe que sempre tem aqueles caras que tiram um sarro. Aí um dia, eu estava botando a mulherada para dentro do auditório, passou uns rapazes e falaram "Roque, bota essas galinhas para dentro!", daí eu falei: "Mas as suas irmãs não chegaram ainda!". Então, são coisas que brincam com a gente e a gente tem que saber se dar ao respeito. Tem senhoras que chegam aqui, coitadas, passam o dia inteiro.
Uma história que me emocionou foi quando um senhor que é delegado me falou que o sonho da mãe dele era ver o Sílvio Santos e ela, coitada, tinha aquela doença ruim (câncer). Ele chegou para mim: "Roque, minha mãe, coitada, talvez ela não tenha muito tempo de vida, ela gostaria de ver o Sílvio Santos pessoalmente". Eu falei: "Doutor, o Sílvio comigo não é só patrão, ele é mais amigo do que patrão". Aí o delegado a trouxe, eu sentei essa senhora e no intervalo eu falei: "Sílvio, essa senhora, coitada, ela está meio doente e o último desejo dela seria dar um abraço em você, Sílvio". E ele foi lá, abraçou essa senhora... coitada da velhinha, realizou o sonho dela. Esse delegado quando veio buscar a mãe dele, e ela contou que estava feliz e eu vi as lágrimas correndo dos olhos desse delegado. Para mim, foi uma das grandes vitórias de minha vida.
Vou contar um caso para você, você vai gostar, vai até dar risada... Um senhor que eu fiz um favor uns vinte anos atrás, coitado, ele estava perdido em São Paulo, foi roubado e não tinha dinheiro para viajar para o Paraná, Cascavel. Aí ele veio falar comigo, coitado, pediu pelo amor de Deus, acabei arrumando um dinheirinho para ele, paguei a passagem e o levei até a rodoviária. E agora, quando foi Domingo (Março/2002), eu chego na porta, o segurança falou: "Roque, tem um senhor querendo falar com você". Aí o senhor: "Oi Roque, vim te agradecer. Você não se lembra de mim... vinte e tantos anos..." Eu falei: "Não lembra o quê?", "Que você Roque, me deu uma passagem para eu ir para o interior...". Daí eu falei: "Lembro!". Ele veio, coitado. Quando ele foi para o interior, queria saber como ia me pagar. Eu falei que não tinha nada o que pagar. Então eu disse: "O dia que você voltar para São Paulo, você trás um frango para eu comer!". E ele veio Domingo (Março/2002), vinte anos depois e ele estava lá na portaria, com dois frangos dentro do isopor. Aí cheguei em casa e falei para Janilda: "Pô! Prepara esse frango que eu vou comer!" E fui comer esse frango, ele estava tão bom que... olha o que eu ganhei... quebrou o meu dente (risos). Mas eu fiquei feliz que tudo isso são lembranças boas das pessoas.

E na televisão, outro dia, fiquei magoado com as meninas. Quando eu estava preparando elas para entrar no auditório, aquela fila de meninada assim... quando eu desci do carro e fui ao encontro delas, elas começaram a gritar: "Lindo! Lindo!". Aí eu fiquei todo contente, joguei beijo e quando olhei para trás era o Sílvio Santos que estava chegando (risos).

 

Topa Tudo por Dinheiro

No programa "Topa Tudo por Dinheiro", a gente fazia as brincadeiras, como você viu aí, a gente se fantasiava, montava no burro. Tinha um quadro que o povo gostava muito que era o do boi que o Sílvio botava as mulheres para sentar lá. Eu tinha que ajudar e, às vezes, tinha que beliscar as bundas das velhas, porque não paravam, coitadas. Então tudo isso acontecia no "Topa Tudo". Fui até júri no programa do Sílvio Santos na época de calouros... Fiz de tudo!
 
"Topa Tudo Por Dinheiro" - competição do Touro Mecânico
 
"Topa Tudo Por Dinheiro"
 

Episódio em que o Sílvio Santos caiu dentro de uma tina d'água

Aquilo foi um acidente de trabalho que quando aconteceu, todo mundo pensou que o Sílvio ia mandar embora. E o Sílvio como bom patrão que é, que olha e vê as coisas dentro do SBT, levou aquilo na brincadeira e inclusive ficou sempre passando, foi bom porque deu mais audiência ainda para o programa. Todos são responsáveis. E aquilo lá é meio eletrônico, você sabe. Então aconteceu uma falha humana... e o patrão só não morreu afogado porque ele sabe nadar... (risos) Ah! Outra coisa... não comenta nada... mas quase ele perdeu a dentadura, viu! (risos)

 

Surgimento do artista Roque

Eu comecei a aparecer mais dos anos 70 para cá. Todos os programas do Sílvio, ele sempre dava um jeitinho de brincar comigo. Sempre a gente fazia umas brincadeiras. No programa "Em Nome do Amor" eu entregava as flores quando dava certo o namoro. E com isso fui me tornando uma pessoa conhecida. O Sílvio mesmo, fala para mim, que os amigos dele, os empresários, falam: "Você judia muito do Roque!" Aí ele explica: "Não! São as brincadeiras que a gente faz". E graças a Deus, como hoje, ele brinca com a gente. Sempre estamos brincando antes de começar o programa e vamos levando a vida. Hoje, eu fico separando a mulherada para não brigarem, porque na hora de cantar derrubam tudo. E hoje, graças a Deus, eu quero deixar bem claro para você e para todo Brasil, eu fui o primeiro cara a organizar as caravanas para os programas, entendeu? Hoje eu estou aí. As pessoas imitam o trabalho da gente. Hoje, qualquer um quer fazer caravana, inclusive eu já tenho escrito, eu já registrei... futuramente vamos ter um negócio para mexer só com caravana. Aqui no Brasil, todos os caravanistas vão ser respeitados. Às vezes, acontece em programas de auditório, trazer dez caravanas, para manter o auditório sentado, e em última hora, algum não aparece, quebra o ônibus e aí tem esse problema. Mas com a gente aqui no SBT, não, temos um fichário de aproximadamente vinte mil pessoas inscritas. Então sempre na última hora, a gente corre para cá, pega lá e por isso sempre mantemos o nosso auditório cheio.
 
Sílvio Santos beijando Roque Sílvio Santos beijando Roque
 

Assédio

Realmente vem muitas pessoas em cima de mim... mas é quando estou devendo (risos). Não sou nenhum artista e não sou nenhum galã. Eu, graças a Deus, tenho muitas crianças, muitas senhora que falam que são minhas fãs, que gostam de mim. Me abraçam, me beijam. Às vezes, também aparecem algumas meninas que dizem que eu sou o cara que animei a Santa Ceia, que naquela época eu já cuidava do auditório (risos). Não é nada disso! Então, nestes quarenta anos tenho muitas amizades, graças a Deus! Tem muita meninada que gosta da gente, mas tudo isso é carinho. São carinhosas com a gente, você viu no meu auditório como é o tratamento. As pessoas vêm ao auditório e querem ser bem recebidas. Essas coisas me deixam feliz porque, graças a Deus, eu me considero um cara de bom coração e acredito naquilo que o próprio Sílvio falou um dia pra mim, que se ele é um homem rico, ele deve isso a esse público. Então, esse público deve ser tratado com respeito, com carinho.
 
Política
Em época de política, eu trabalho, eu faço campanha. Vou nos comícios também. Fui vereador de Carapicuíba na época dos militares, em sessenta e sete. Foram três eleições. Ganhei em primeiro lugar. Fui vereador, mas trabalhava de graça. Hoje, você vê, todo mundo tem seus interesses.Um dia, até pensei em parar de trabalhar com auditório. O doutor Paulo Maluf me chamou para trabalhar com ele. Aí o Sílvio falou: "Não, se você sair daqui... você é um cara de confiança. Mexer com mulherada, Roque, você conhece, você sabe. Larga a mão disso". Estou aqui, hoje, graças a Deus. Eu me orgulho da empresa que eu trabalho, me orgulho do meu patrão e me orgulho desse povão que me conhece e que tem me dado muito carinho e muita atenção para mim. Eu garanto uma coisa: sempre tem alguém que não gosta da gente. Mas a gente também não é doce para todo mundo gostar, quando tem um, tem dois, tem três que não gostam da gente, mas garanto que tem mais de cinqüenta que gostam da gente, não é verdade? (risos)
 
Roque no palanque com Maluf Roque no palanque com Maluf
 

Mágoas

Eu me considero um cara muito rico, porque eu tenho três riquezas em minha vida que é a minha saúde, a minha amizade e estou bem com Deus. Essas três coisas, para mim, são importantes, por isso não tenho inveja de ninguém. Mas uma coisa eu digo, se nesse nosso mundo dentro de televisão, o pessoal fosse mais humano, acho que os artistas abandonados por aí teriam mais oportunidades. Hoje, quantos artistas que você vê, coitados, que foram sucesso... ninguém mais lembra deles? Para ir num programa de rádio é difícil, televisão é difícil... por quê? Hoje a turma quer o quê? Hoje a turma tem um outro visual, a turma hoje quer coisa bonita, então não adianta chegar lá e deixar de apresentar um bonitão para apresentar quem? O Jamelão que está velhão, os caras antigos? Então, infelizmente a televisão está assim. Abandonaram e esqueceram daqueles que hoje deveriam ser valorizados. Uma das coisas bonitas que tinha aqui no SBT, você viu, há pouco tempo tinha aquele programa "Em Nome do Amor", sempre era homenageado umas dessas pessoas, artistas antigos. Hoje, infelizmente, só tem uma coisa que não esquece dos antigos, é a morte.
 
"Em Nome do Amor"
 

Família

Hoje eu tenho uma família que me orgulho, tive um problema há pouco tempo, todo mundo sabe. Se você quiser que eu passe uma mensagem para a juventude, eu passo. A mensagem que passo para juventude brasileira é ter muito cuidado com as companhias. Os filhos tem sempre que seguir a orientação dos pais. Meu filho era um meninão de vinte anos, rapaz boa pinta. Menino que tinha futuro se ele quisesse enfrentar qualquer tipo de coisa. Moço inteligente. Mas as companhias que ele arrumava, só ia levar ele para o fim do túnel. Enfim, meu filho tinha praticamente centenas de amigos para correr de moto, para correr de carro, para fazer todo tipo de coisa que a juventude gosta de fazer. E às vezes ele ficava fora da casa. Eu perguntava: "Pô filho, onde você está dormindo?" e ele: "Tô na casa de um amigo. Tô numa boa!" Eu me preocupei, tentei fazer tudo, levei ele para casa... levei ele para um local muito legal para ele ficar lá. Arrumei tudo isso, ele não quis. Ele achou que o melhor ambiente que ele queria era aquele tipo. Mas na hora que ele morreu, não tinha nenhum amigo do lado, quem estava lá era a família.

 

Religião

Minha religião é Deus no céu, essa Santa que está aqui, olha! Em cima de mim, Nossa Senhora de Aparecida, Padre Cícero, Santo Expedito, tudo que é santo... Na minha casa tem uma capelinha. As pessoas vem, me trazem um santinho, eu guardo de lembrança. Porque eu digo uma coisa, na época que está hoje quem não tiver fé e não estiver com Deus... a situação está brava.

 

Futuro

Eu se um dia tiver alguma coisa, eu quero ter um programa de rádio: "A Hora do Roque". Eu tenho amizade no Brasil inteiro e vão me ouvir. Um programa não, um programinha sim. Primeira coisa: já estou na idade de Matusalém. Segundo: televisão, hoje em dia, eu acho que é para quem tem seu nome feito e para as pessoas que têm um visual bonito... Não adianta você ver um cara feio, que desanima. "Eh, meu Deus! Deixei de ver aquela mulher bonita para ver aquele cara feio na televisão!" Na minha opinião, o meu trabalho é ajudar.
 
 
Agradecimentos:
Ana Teresa Salles, Ede Pandolph, Hélia Therezinha Giacomo,
Mônica Victor, Zilda C. Deramo e o Depto de Comunicações do SBT.
 
 
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